Rio de Janeiro – Três dias após a denúncia de suposto uso da CPI da Loterj pelo deputado André Luiz (PMDB-RJ) para achacar o empresário de jogos Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira, a Assembléia Legislativa fluminense aprovou ontem o relatório final da investigação, com uma novidade.
Os parlamentares decidiram pedir ao Ministério Público o indiciamento do deputado federal Carlos Rodrigues (PL-RJ) por formação de quadrilha.
A iniciativa, por destaque para votação em separado, causou protestos de alguns deputados: havia a suspeita de que fosse uma retaliação, porque Rodrigues participou da denúncia à revista Veja, segundo a qual o deputado André Luiz teria pedido propina para Carlinhos Cachoeira para livrá-lo das investigações da CPI.
“Não quero acreditar que haja caça às bruxas aqui”, protestou o deputado Edino Fonseca (PSC), que é pastor (Rodrigues era bispo da Igreja Universal do Reino de Deus e ainda tem ligações na área evangélica) e argumentou que outros citados no relatório não tiveram seu indiciamento pedido. O deputado Luiz Paulo (PSDB), autor do destaque junto com Gilberto Palmares (PT), Paulo Ramos (PDT) e Paulo Melo (PMDB), negou. “Da nossa parte, não há nenhuma retaliação”, disse o tucano, autor do relatório.
Corrupção
O texto pede ao MP o enquadramento do ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz por corrupção passiva, prevaricação, condescendência criminosa, três formas de improbidade administrativa, modificação ilegal de contrato público durante sua execução, adulteração de edital de licitação e sonegação fiscal, além de pedir que seja investigado por crime eleitoral.
Cachoeira teve pedido seu enquadramento por extorsão, modificação ilegal de contrato público durante sua execução, corrupção ativa e fraude em concorrência pública. Também é pedido no relatório que seja investigado por crime eleitoral. Ambos tiveram pedido seu enquadramento por suposta formação de quadrilha. A votação do relatório estava prevista para ocorrer na próxima semana, mas foi antecipada após a reportagem da Veja.
Sindicância se reúne hoje em Brasília
Brasília – A sindicância criada na Câmara Federal para apurar denúncias contra o deputado federal André Luiz (PMDB-RJ) vai se reunir pela primeira vez hoje, às 11h. De acordo com o deputado Severiano Alves (PDT-BA), que integra a sindicância, a reunião servirá para estabelecer um cronograma de trabalho, o que pode incluir os depoimentos do deputado André Luiz e do empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira.
O vice-presidente da Câmara, deputado Inocêncio Oliveira (PFL-PE), defendeu hoje uma investigação rigorosa em relação às denúncias. “Eu sou a favor de uma investigação profunda para que não desmoralize a comissão parlamentar de inquérito”, disse. Segundo ele, os deputados devem cobrar do presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP), agilidade nas investigações. “Se tiver culpa, que seja provado. Se for inocente, que seja isentado”, enfatizou.
Denúncia
A revista Veja publicou este fim de semana denúncia de que o deputado André Luiz teria pedido R$ 4 milhões ao publicitário Alexandre Chaves – sócio de Carlinhos Cachoeira – para o pagamento de 40 deputados estaduais do Rio com o objetivo de retirar o nome de Cachoeira da lista de indiciados no relatório da CPI da Loterj, que investiga irregularidades na loteria que administra jogos no Rio de Janeiro.
O líder do PFL, José Carlos Aleluia (BA), disse que as CPIs têm sido usadas, algumas vezes, com objetivos “inconfessos”, o que gera, de acordo com ele, constantes denúncias. O deputado reforçou a necessidade de uma investigação profunda sobre as denúncias. O líder do governo, Professor Luizinho (PT-SP), destacou que o assunto deve ser tratado no fórum adequado e que deve ser dado “o legítimo direito de defesa ao deputado”.