Brasília – O reconhecimento do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, de que o partido trabalhou com "caixa 2" em suas campanhas eleitorais levou alguns deputados federais a "pedir sua cabeça" na reunião da executiva nacional prevista para hoje, na capital paulista. Os deputados Dr. Rosinha (PR) e Devanir Ribeiro (SP) defenderam publicamente a expulsão do ex-tesoureiro, que junto com o empresário Marcos Valério de Souza, está no centro do que pode ser considerada a pior crise política do PT em seus 25 anos.
Segundo o deputado Rosinha, "se Delúbio não pedir a sua desfiliação do PT até amanhã (hoje), quando a executiva nacional irá se reunir, nós vamos exigir a sua expulsão", em nota distribuída hoje.
Êxodo
Preocupado com a velocidade com que cresce a crise política no PT, um grupo de deputados que integram a esquerda petista já avalia a possibilidade de deixar o partido. O prazo limite para uma decisão é setembro, quando ocorre o processo de eleição direta para o comando da legenda, e o grupo saberá, então, que espaço terá no comando da legenda. Alguns deputados já iniciaram conversas com o P-SOL. O deputado Walter Pinheiro (PT-BA), que integra a tendência radical Democracia Socialista, relata que está conversando com a senadora Heloísa Helena (P-SOL-AL). A angústia na esquerda do PT cresceu depois que o ex-tesoureiro Delúbio Soares admitiu que fazia caixa dois para o partido.
"Estamos conversando. Muitos deputados da esquerda podem deixar o partido. O P-SOL é uma possibilidade concreta para nós. Mas temos que ter o cuidado para que não se repita o erro que o PT cometeu de verticalizar o comando partidário", contou Pinheiro.
A senadora Heloísa Helena confirma as negociações: "O P-SOL está trocando idéias com vários deputados da esquerda do PT". Os deputados das tendências de esquerda, que somam cerca de 30 parlamentares, analisam três possibilidades para o futuro do grupo, caso seja vitorioso nas eleições diretas o Campo Majoritário, tendência mais alinhada ao presidente Lula e há até pouco comandada pelo deputado José Dirceu (PT-SP) e o ex-presidente José Genoino. Um grupo defende a saída imediata do PT. Uma parcela menor quer permanecer no partido, mas com a proposta de radicalizar na disputa interna. Outros analisam a possibilidade de abandonar definitivamente a militância político-partidária. Esse é o grupo dos desiludidos.
"Essas próximas semanas serão decisivas. Pela primeira vez, nós da esquerda estamos nos perguntando fortemente se há vida política fora do PT. E quem pergunta, quer resposta", disse o deputado Chico Alencar (PT-RJ). Ele avalia que o processo de eleição direta no PT pode gerar um anticlímax no partido. Apesar de ter 800 mil filiados, a cúpula do partido teme que menos de 80 mil petistas compareçam às urnas em setembro. Segundo Chico Alencar, está faltando humildade para a atual cúpula petista para conduzir o grave momento do partido. E considera que isso pode levar um grupo de deputados a sair da legenda.