Brasília – Mesmo com o pedido de desligamento da ministra-chefe da Secretaria Especial de Promoção das Políticas de Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) mantém a intenção de criar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar eventuais abusos em gastos com cartões corporativos por autoridades públicas. Ele argumenta que o foco da CPMI é apurar os gastos desde 2002, quando foi criado o cartão corporativo.
"A saída da ministra não resolve, nem muda nada, porque queremos investigar gastos passados. O que muda é que ela iria falar [na comissão] na condição de ministra e, agora, vai falar na condição de cidadã", afirmou Sampaio.
A criação da CPMI, no entanto, não é uma unanimidade nem entre os tucanos. O vice-líder do partido no Senado, Álvaro Dias (PR), considera que criar uma comissão parlamentar de inquérito sem antes obter os dados dos gastos efetuados pela Presidência da República não se justifica. O parlamentar quer cobrar, na primeira reunião da Mesa Diretora do Senado com os líderes partidários, a aprovação de requerimento de sua autoria que pede informações à Presidência da República sobre gastos com cartões corporativos.
O requerimento prevê que, se em 10 dias, a Presidência não encaminhar os dados, o Senado poderá recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). "Instalar uma CPI sem a obtenção dos documentos da Presidência não será suficiente. Só nos primeiros 18 dias de janeiro, os gastos do cartões corporativos da Presidência somaram R$ 1,8 milhão".
O líder do PDT, Jefferson Péres (AM), diz temer que uma comissão se transforme em mais uma queda de braço entre governo e oposição e acabe por desvirtuar o foco para o qual seria criada. "Não me oponho à CPI, dou minha assinatura mesmo pertencendo à base governista. Mas ando cético. Este instituto tem sido banalizado por lutas partidárias."
Péres acredita que uma auditoria especial por parte do Tribunal de Contas da União (TCU) "seria um caminho mais eficiente" na investigação de possíveis abusos de autoridades públicas nos gastos com cartões corporativos. Ele defende que os ministros da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca, Altemir Gregolin, e dos Esportes, Orlando Silva, devam, também, "pedir o boné".
O ministro dos Esportes gastou R$ 8,30 numa tapiocaria em Brasília. "Independente do valor tem que sair. Pode ser R$ 10 mil ou R$ 10 milhões. Infelizmente, no Brasil, há o hábito de se medir uma infração pelo valor financeiro. Se não fizeram jus à confiança do presidente [Luiz Inácio Lula da Silva] devem sair", afirmou Jefferson Péres.
Para o líder do Democratas, José Agripino Maia (RN), a questão "deve ser vista com cautela para não banalizar a CPI nem prejudicar outras já em andamento". Ele adverte, entretanto, que o uso dos cartões corporativos tem que ser investigado e o melhor caminho para isso será analisado pela bancada do DEM assim que forem retomados os trabalhos do Congresso, após o carnaval.
Sobre a demissão de Matilde Ribeiro ele afirmou que "era inevitável". Segundo Agripino, o afastamento da ministra "significa a remoção da ponta do iceberg". O líder do DEM, na mesma linha de Jefferson Péres, também considera que seria justificável a demissão de Gregolin. Quanto a Orlando Silva, o senador não tem tanta certeza. "O Orlando nem tanto", afirmou.