Brasília – Uma contradição na primeira parte do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Apagão Aéreo da Câmara, apresentada nesta terça-feira (18), chamou a atenção de alguns deputados, por incluir duas menções ao acidente com o Airbus A320 da TAM no capítulo sobre os fatores que contribuíram para as falhas nos serviços e na infra-estrutura aeroportuária.
Nessa primeira parte, o documento trata especificamente da infra-estrutura dos aeroportos e, embora as investigações sobre as causas do acidente do dia 17 de julho ainda não tenham sido concluídas, afirma que ?cresce a impressão de que a situação do piso da pista, no momento da aterrissagem, não teve contribuição determinante para o acidente?. Mas indica que a pista principal do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, pode ter contribuído para o acidente, inclusive pelo fato de "ter apenas 1.940 metros e não contar com áreas de escape".
Em outro trecho, o relator é incisivo, ao alegar que a ocupação irregular do entorno do aeroporto aumentou a deficiência da segurança operacional: "Congonhas hoje está cercado por edifícios residenciais e comerciais que dificultam a adoção de ações para melhoria da segurança operacional que, supostamente, poderia ter impedido ou minorado as conseqüências do acidente".
O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) cobrou mais clareza: ?Ora se afirma que a condição da pista não foi determinante para o acidente, ora que ela pode ter contribuído. Não há que se ter meio-termo. Ou se enfrenta o tema e se afirma que há responsabilidade, ou que não houve. Isso tem efeitos inclusive sobre a responsabilização da Infraero na fiscalização da pista?.
Marco Maia explicou que vai aprofundar o tema no segmento do relatório destinado aos acidentes, incluindo o do Boeing da Gol, ocorrido no dia 29 de setembro de 2006. E disse não ver contradição, já que considerou a pista um fator contribuinte, mas não decisivo. ?Minha compreensão é de que Congonhas em si é um fator contribuinte para o acidente com o avião da TAM, mas não é decisivo. Se a pista tivesse dez quilômetros a mais, o acidente não teria sido evitado?, afirmou.
Segundo o relator, os indícios obtidos até agora indicam que uma possível falha no avião seria a principal causa do acidente da TAM, mas a CPI continua analisando e confrontando informações: "Estou confirmando a afirmação de que o acidente tenha sido causado por uma falha de equipamento do Airbus, mas minha convicção, até o momento, é de que este tenha sido o fator preponderante para a ocorrência?.
Nesta quarta-feira (19), a Comissão ouvirá o parecer do coronel Antonio Junqueira sobre a análise dos dados das caixas-pretas, que serão confrontados com as informações obtidas na última sexta-feira (14), quando integrantes da CPI participaram de uma simulação do acidente.
Especialista em análise de caixas-pretas e diretor do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) na época do acidente com o Airbus A320 da TAM, Junqueira foi contratado para assessorar a CPI.