A notícia da prisão de 27 acusados de envolvimento em um esquema de adulteração de leite longa-vida em Minas Gerais, na segunda-feira, tornou os consumidores da capital paulista mais cuidadosos na hora de comprar leite. Pelo menos em três grandes lojas de supermercados de duas grande redes em São Paulo, a maioria diz estar preocupada com o possível dano à saúde, mas não deixou de comprar longa-vida nem substituiu o produto por leite em pó ou em saquinho. No entanto, passou a ler os rótulos das embalagens e verificar a procedência do produto.
Desde a denúncia da adulteração, a aposentada América de Castro Faria começou a prestar mais atenção nas informações da caixinha antes de escolher a marca de leite. "Fiquei muito preocupada. Comecei a reparar se o leite é fabricado em Minas. Se for eu não levo", disse. Ela contou que comprou recentemente várias unidades de leite da empresa Parmalat – uma das marcas que estão sendo recolhidas por fiscais do Ministério Público (MP) em Uberaba (MG) -, mas não tem a intenção de seguir a recomendação de suspender o consumo da bebida até que novas perícias esclareçam a qualidade do leite. "Confio na empresa, que tem nome", disse.
Já Niva Ramos, também aposentada, disse que aboliu da lista de compras o leite da marca Parmalat. "Hoje, nem que fosse de graça", afirmou. A empresária Fabiana Bueno tem a mesma atitude. "Não confio nas empresas e muito menos na fiscalização do governo", conta. Ela também passou a conferir as informações das embalagens e não compra leite que seja de Minas. As consumidoras não sabiam dizer quais as outras marcas de leite sob suspeita – a Calu e a Centenário, mais conhecidas pelos mineiros.
Mais radical foi a atitude da enfermeira particular Suelene Ana dos Santos: ela deixou de comprar leite longa-vida. "Hoje em dia é tudo adulterado, tudo genérico", afirmou. Ela também se disse surpresa com o fato. "Cada dia a gente se surpreende com esse País. É tanta picaretagem." A aposentada Martuce Cruz Oliveira contou que vai esperar o resultado de novas análises do leite para voltar a consumir o produto. "Tenho muito medo", revela.
Alzira Ramos, costureira, conta que soube pelo marido sobre a adulteração do leite – substâncias como soda cáustica (hidróxido de sódio) e água oxigenada (peróxido de hidrogênio) chegaram a ser acrescentadas à bebida -, mas não deixará de consumir o produto. "Tenho três filhos para alimentar. Fazer o quê, né?" O mesmo pensa a aposentada Genni Ferreira. Apesar de dizer que ficou preocupada, não deixará de comprar leite longa-vida porque acredita no controle de qualidade dos fabricantes. "Eles seriam os maiores prejudicados. Por isso, devem fiscalizar rigorosamente.
Testes
Em nota divulgada ontem a Parmalat informou que as amostras do leite que enviou a laboratórios credenciados pelo Ministério da Agricultura estavam apropriadas para o consumo. "Os testes não indicaram quaisquer problemas de qualidade." A empresa Calu informou que lamenta ter o nome envolvido no esquema de adulteração do leite e promete fazer uma "avaliação detalhada do caso" para tomar "as providências necessárias". A Calu informou ainda que não tem "qualquer vínculo comercial com as cooperativas envolvidas" – a Cooperativa dos Produtores de Leite do Vale do Rio Grande (Copervale) e a Cooperativa Agropecuária do Sudoeste Mineiro (Casmil).
A assessoria de imprensa da Copervale, fabricante da marca Centenário, informou que só fará um pronunciamento após o resultado de nova análise das amostras, que deve sair na sexta-feira. A Copervale informou ainda que a produção continua em funcionamento, exceto a produção do leite integral longa-vida.
A assessoria de imprensa da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) informou que só se manifestará sobre as medidas tomadas pelas redes amanhã, em entrevista coletiva. Nas três lojas verificadas, todas tinham leite longa-vida da empresa Parmalat e nenhum leite da Calu e da Centenário. Além disso, nenhuma das marcas expostas nas prateleiras foi produzida no Estado de Minas Gerais, de acordo com as informações das embalagens.