Denúncia de corrupção acua o governo Lula

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros do núcleo político avaliam que terão muito trabalho daqui para a frente com as denúncias publicadas pela revista Época envolvendo o ex-subchefe da Assessoria Parlamentar da Casa Civil Waldomiro Diniz, que aparece numa fita de vídeo cobrando propinas do bicheiro Carlinhos Cachoeira para a campanha do PT, em 2002.

A preocupação do Planalto tem razões práticas: os líderes petistas e aliados no Congresso são experientes em fazer denúncias, mas ainda ingênuos na defesa do governo e do partido. Um exemplo citado por interlocutores do presidente desta falta de traquejo político para tratar de assuntos delicados foi a intervenção da líder do PT no Senado, Ideli Salvati (SC), na sexta-feira pela manhã, quando a oposição já explorava a denúncia: em discurso da tribuna ela pediu punição para Waldomiro e também para o bicheiro – por supostamente ter vazado a fita. “Foi um desastre”, comentou um auxiliar palaciano.

Depois de uma reunião de emergência entre Lula e seus principais ministros, feita na noite de sexta-feira, no Hotel Glória, a conclusão foi uma só: se a oposição exercida por PSDB e PFL fosse tão competente quanto a feita pelo PT durante os governos de Fernando Collor e de Fernando Henrique Cardoso, não haveria como escapar da instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a atuação de Waldomiro Diniz e a suspeita de que teria envolvimento com a máfia dos bingos.

“Os primeiros dias serão difíceis”, reconheceu o novo líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), ao final da festa de aniversário do PT, sexta-feira à noite. Na reunião que fizeram no Rio, Lula e seus ministros mais importantes, como José Dirceu (Casa Civil), Luiz Gushiken (de Comunicação de Governo) e Luiz Dulci (da Secretaria-Geral da Presidência), chegaram à conclusão de que pelo menos dois motivos podem ter servido para a divulgação da fita de vídeo que envolve Waldomiro Diniz com os bicheiros: ou vingança do Ministério Público contra José Dirceu, que pregou a lei da mordaça para os procuradores e promotores, ou o início da “parte suja? da campanha eleitoral.

Se a motivação for uma vingança do MP, a situação será mais tranqüila, porque o assunto morreria com a divulgação da fita, numa tentativa de prejudicar Dirceu, concluíram. No segundo caso, a situação se complica. “A forma como o Waldomiro é filmado no aeroporto mostra que havia alguém interessado em registrar seus passos. Pode vir mais coisa por aí”, diz um ministro.

CPI: metade tem medo, metade não

Brasília – Enquanto a oposição se mexe para colher assinaturas para uma CPI investigar o episódio envolvendo o ex-subsecretário parlamentar Valdomiro Diniz, o governo está dividido sobre o assunto. O líder do governo na Câmara, deputado Miro Teixeira (sem partido-RJ), e o vice-líder do governo na Câmara dos Deputados, professor Luizinho (PT-SP), são contra a comissão, alegando que a Polícia Federal já está no caso. Já o ex-líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), e o ex-líder do PT no Senado, Tião Viana (PT-AC), defenderam a CPI.

Miro garante que uma eventual Comissão Parlamentar de Inquérito não causa embaraço para o governo, mas salientou que esse tipo de comissão é necessária quando é preciso apurar fatos. “O resultado de uma CPI é encaminhado ao Ministério Público. Nesse caso o fato já é conhecido. Está tudo pronto. Tem de se dar apenas o direito de defesa ao réu porque o fato está comprovado”, disse Miro. “A mim não resta dúvida da responsabilidade penal de Valdomiro”. O professor Luizinho (PT-SP) acha que a denúncia não se refere a um ato do governo Lula e que Waldomiro Diniz já foi demitido.

Walter Pinheiro disse que apoiará a abertura de uma CPI para investigar as denúncias contra o ex-subsecretário parlamentar da Presidência. “CPI não tem nenhum problema. Está em consonância com a posição tradicional do PT e, ao contrário do que diziam os tucanos, eu acho que ela não paralisa nada e não prejudica nada”. Segundo ele, o “que é prejudicial são as ilações envolvendo o ministro da Casa Civil, José Dirceu, que tem integridade”. Tião Viana afirmou que o PT tem de assinar o pedido de CPI. “Nossa coerência histórica nos impõe total transparência em situações dessa natureza”, disse.

O presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), também não vê problemas na abertura de uma CPI para investigar a denúncia de corrupção envolvendo Waldomiro Diniz: “Pode pedir; não tem problema”, limitou-se a dizer. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), também presente na festa, defendeu a realização da Comissão Parlamentar de Inquérito. “Como há envolvimento de uma pessoa importante na administração pública e diferentes partidos políticos, se trata de um caso com complexidade suficiente para se fazer uma CPI”, afirmou.

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