No primeiro dia do julgamento do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de assassinar e desaparecer com o corpo de Eliza Samudio, ficou clara a estratégia da defesa de apontar falhas nas investigações para tentar livrar seu cliente da condenação.

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A situação do réu se complicou depois que o ex-goleiro Bruno Fernandes de Souza admitiu ao júri que o condenou, em março passado, que Luiz Henrique Romão, o Macarrão, levou a amante de Bruno para ser morta por Bola. O ex-jogador foi condenado a 22,3 anos de prisão por ter encomendado o crime. Macarrão pegou 15 anos por ter confessado parcialmente seu envolvimento na trama.

Bola está sendo julgado no Fórum de Contagem (MG) desde a manhã desta segunda-feira, 22. Logo no início dos trabalhos, o advogado dele, Ércio Quaresma, pediu o adiamento do júri, alegando cerceamento de defesa pela ausência de testemunhas e que seu cliente deveria ser julgado na comarca de Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde Eliza teria sido morta. A juíza Marixa Rodrigues indeferiu o pedido.

Posteriormente, no único interrogatório do dia, Quaresma questionou a delegada Ana Maria Santos, que conduziu o caso na fase policial, por não indiciar outros nomes mostrados pela quebra do sigilo telefônico dos envolvidos. Ele se referia especialmente ao policial José Lauriano, o Zezé, cujo número teria aparecido diversas vezes nas 50 ligações recebidas por Macarrão nos dias que antecederam o crime, assim como o de Bola. Ana Maria respondeu que ele não foi indiciado porque, na época, não havia elementos suficientes, embora ele tenha sido interrogado.

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“O senhor José Lauriano foi ouvido mais de uma vez, e é preciso esclarecer aos jurados que não é simplesmente por um fato que o sujeito resta indiciado. Se não houve indiciamento, é porque não havia elementos suficientes”, respondeu a delegada. Diante da insistência do advogado, Ana Maria disse que o inquérito já estava na fase final quando o nome de Zezé apareceu. Ela também afirmou que não leu o relatório com os dados da quebra de sigilo telefônico dos envolvidos.

Para Quaresma, as autoridades policiais elegeram apenas seu cliente para indiciar, ignorando indícios referentes a outros possíveis envolvidos na trama, como os policiais Zezé e Gilson Costa. Ele também questionou a legitimidade do julgamento enquanto há outras investigações sobre o crime em andamento, como o inquérito aberto pelo Ministério Público para apurar a participação dos dois policiais no caso. O promotor Henry Vasconcellos rebate a tese de Quaresma ao afirmar que “investigações suplementares visam a mais ampla reunião de provas de coautoria de outros dois parceiros do réu”. Para a promotoria, Zezé é o homem que apresentou Bola a Bruno.

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O promotor Henry Vasconcellos focou seu interrogatório à delegada em detalhes do depoimento de Jorge Luiz, o primo de Bruno que revelou como Eliza teria sido sequestrada e morta, no início de junho de 2010. Durante os questionamentos, Ércio Quaresma pediu para deixar o Fórum. Segundo ele, sua mulher havia sido assaltada. O promotor ironizou o fato, dizendo que a esposa de Quaresma também havia sido assaltada no julgamento ocorrido em novembro, no qual Macarrão foi condenado. Nas preliminares, o promotor afirmou que “o que a defesa quer é nutrir-se com escândalo frívolo e irresponsável’. Henry Vasconcellos pediu que os defensores agissem com “plenitude”. Durante a maior parte do tempo, Bola permaneceu de cabeça erguida. Chegou a atrair as atenções ao tomar um iogurte na sala do júri. Também mandou mensagens escritas em um papel branco para seus advogados.