Há duas semanas, a Câmara Municipal vivia uma das sessões mais agitadas do ano. Na pauta, o polêmico projeto que aumentou o salário dos vereadores em 26,3%. Os parlamentares formavam uma roda num canto do plenário. No centro dela, Milton Leite (DEM), de 60 anos, dava a ordem: “Oriento a bancada a votar ‘sim'”, disse ao microfone. O aumento saiu na sessão seguinte.

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É recorrente uma brincadeira nos corredores do Legislativo municipal: quando Leite entra no plenário, é porque as votações vão acontecer. Na política desde 1983, militante do extinto MDB, ele está na Câmara initerruptamente desde 1997, após vencer sua primeira eleição com 33 mil votos. Nesses 20 anos, chega à presidência da Casa como o homem mais poderoso do Legislativo.

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Leite não é daqueles vereadores que discursam no plenário. Seu poder nasce nos bastidores. É capaz de ler as entrelinhas de projetos e, assim, sabe as vantagens e desvantagens de cada lei. “Ele é daquelas pessoas generosas com aliados e implacáveis com adversários”, afirma um vereador aliado.

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“Nessa disputa não posso errar”, disse, à reportagem, ao negar entrevista. Tinha receio de parecer estar “sentando na cadeira” enquanto ainda concorria à presidência contra Mário Covas Neto (PSDB). Mas só ele tinha esse receio. Para o resto da Câmara, já estava eleito em novembro.

“Quando disputou (e perdeu) a presidência comigo (em 2010), ele buscou alianças com os vereadores. Eu busquei os partidos. Neste ano, ele tratou diretamente com Doria”, diz o vereador José Police Neto (PSD), ex-presidente da Casa.

A aproximação com Doria se deu logo no início da campanha. A avaliação do comitê tucano era de que Leite poderia vencer mesmo sem o PSDB. Assim, seria melhor tê-lo como aliado. “Ele pode ajudar muito um prefeito de qualquer partido”, disse Covas Neto, com ironia.

História

O poder de Leite também é reflexo das urnas. Parlamentar de base eleitoral nos bairros de M’Boi Mirim e Grajaú, no extremo sul, foi o segundo mais votado na cidade, com 107.957 votos. Ele afirma ainda defender os perueiros da região e escolas de samba.

Leite já era um homem rico antes do primeiro mandato. Abriu sua primeira empreiteira em 1978. Em 1996, declarou patrimônio, corrigido, de R$ 4,5 milhões. Neste ano, a declaração foi de R$ 2,8 milhões. Sua empresa, Lesimo Sondagens, tem outros R$ 6,1 milhões em imóveis, segundo os cadastros do IPTU. “Meu patrimônio está todo declarado. Minha mulher (Neusa Maria) administra a empresa”, afirma. Sua campanha foi a mais cara: receita de R$ 2,4 milhões, quase que integralmente paga pelo diretório do DEM.

Na juventude, Leite militou no PCdoB. Migrou para o PMDB no início da década de 1980. Daquela época, guarda a foto em que dividia palanque com Mario Covas e FHC. A ida para o DEM, após 2000, foi a convite de Kassab.

No primeiro mandato, foi relator da CPI das Administrações Regionais, que apurou a Máfia dos Fiscais da gestão Celso Pitta. “O (José Eduardo) Cardozo ficou com toda a fama, mas fui eu que fiz o relatório.” Agora presidente, diz que vai promover uma caça aos supersalários dos funcionários da Câmara.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.