Depois de uma gravidez tranquila, a autônoma Kezia Alves, de 26 anos, não esperava que os primeiros dias da pequena Isabella seriam tão turbulentos. Fraqueza, inchaço na barriga, pele amarelada e choro constante eram alguns dos sintomas apresentados pela bebê, nascida em agosto de 2015. Com três semanas de vida veio o diagnóstico: a menina tinha cirrose hepática e precisaria de um transplante de fígado para sobreviver.
Doença conhecida por sua relação com o alcoolismo, a cirrose também pode afetar recém-nascidos. No caso das crianças, no entanto, as causas são diferentes e costumam estar atreladas a problemas congênitos, como o desenvolvido por Isabella: atresia das vias biliares, uma espécie de entupimento dos canais que ligam o fígado e a vesícula.
“Essa é a principal causa da cirrose hepática em crianças e os pacientes já manifestam os sintomas nas primeiras semanas de vida, geralmente com um quadro grave. O fígado é a fábrica de proteínas do corpo. Sem o funcionamento adequado dele, a criança não consegue se alimentar, tem desnutrição severa e pode ter sangramentos”, explica Uenis Tannuri, professor titular de cirurgia pediátrica e transplante de fígado da Faculdade de Medicina da USP e chefe do mesmo setor no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas.
Diante da urgência do transplante nas crianças, os pais costumam ser os doadores. Foi o caso de Isabella. Ela ficou quatro meses na fila de espera pelo órgão, sem conseguir um doador. Foi quando os pais decidiram se colocar à disposição. “Primeiro, meu marido fez os exames, mas os resultados apontaram gordura no fígado e ele foi impedido. Então decidi fazer e deu certo”, conta Kezia.
Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), tem crescido o porcentual de fígados doados a crianças por parentes. Dos 176 transplantes do tipo feitos em 2015, 88% tiveram familiares da criança como doadores, o dobro do índice registrado em 2010.
Isabella recebeu parte do fígado da mãe em junho deste ano. A família ainda teve de enfrentar sustos após a operação. A criança rejeitou o órgão e teve de voltar para o centro cirúrgico outras duas vezes. Os médicos conseguiram solucionar as complicações e a menina teve alta no último dia 21. “Não tive medo da cirurgia. Sabia que minha filha, finalmente, teria uma vida melhor”, diz Kezia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.