Daniel inocenta irmão e diz que Suzane planejou tudo

Christian Cravinhos não matou Marísia von Richthofen. A afirmação foi feita ontem por um tranqüilo Daniel Cravinhos, no primeiro dia do julgamento dos irmãos e de Suzane von Richthofen, acusados pelo assassinato dos pais dela, Manfred e Marísia, em 31 de outubro de 2002. "Meu irmão ficou nervoso, na janela, parado, desesperado."

Pela versão do ex-namorado de Suzane, confirmada em seguida pelo irmão, ele matou Manfred a golpes de barra de ferro viu Marísia se mexer, "como se estivesse se virando de lado", deu a volta na cama e a executou. Christian, nervoso, mas altivo cheio de ginga, disse que assumiu o homicídio por pensar que, assim, o irmão "ficaria muito menos tempo preso".

Daniel e Christian foram ao julgamento algemados, de moletom, calça jeans e tênis. Suzane, algemada também, trajava camiseta branca, casaco azul, calça cáqui e bota de camurça bege No primeiro dia, ela quase não foi vista no plenário – onde só fica o réu interrogado. No caminho do Centro de Ressocialização Feminino de Rio Claro até o Fórum Criminal da Barra Funda, Suzane passou mal e vomitou. Teve de trocar de roupa antes ir a júri.

No julgamento, que começou por volta de 14 horas, os irmãos descreveram uma Suzane fria, que vivia em pé de guerra com os pais, dos quais sentia ódio, até porque costumava ser agredida verbal e fisicamente. Um exemplo: Christian disse que no caminho até a casa dos Richthofen, no dia do crime, o irmão estava nervoso, mas Suzane "ouvia Bob Marley e fumava cigarro de cravo como se estivesse indo para o Hopi Hari".

Segundo Daniel, ouvido das 14h45 às 17h20, ela falava em matar os pais desde o primeiro ano de namoro. Pelo relato do rapaz, Suzane pensou em cometer o crime usando a arma do pai. "Se não fosse com a arma, seria de outra forma. Pensou em tirar mangueira do freio do carro, pensou em botar fogo no sítio com eles dentro."

Daniel disse que, a princípio, não imaginou que ela falasse sério. Depois se opôs à idéia e até brigou com a jovem. Só aceitou participar no dia do crime, porque Suzane chegou à sua casa chorando muito, dizendo que o pai a tinha agredido fortemente e ela estava com muito medo. "Ela me disse que o pai tentou estuprá-la quando ela era criança.

Quando ele bebia, usava isso de pretexto para passar a mão nas partes íntimas dela Isso era de conhecimento do Andreas, que, às vezes, dormia no quarto dela (para tentar protegê-la). Acabei sentindo o mesmo que ela (e aceitou participar)."

Sem explicações

Por essa versão, Christian teria sido informado do crime no dia do assassinato. Foi contra, mas acabou na última hora, acompanhando o casal. As armas do crime também teriam sido confeccionadas por Daniel na mesma tarde. Ninguém explicou – e ninguém perguntou – como a mãe da jovem não acordou diante dos golpes desferidos no marido.

"Há marcas na cabeceira da cama. E não fosse o barulho dos golpes em Manfred, haveria o barulho das pancadas na madeira", analisou a pesquisadora Ilana Casoy, que escreveu um livro sobre o caso.

Não se explicou também por que Daniel confeccionou dois bastões para executar os Richthofen. Ainda nada se disse sobre a perícia, que apontou a asfixia de Marísia. Daniel também não falou sobre a toalha enfiada na garganta dela – disse apenas que não fez nada disso.

Christian, por sua vez, garantiu que não receberia pagamento pelo crime e só aceitou guardar o dinheiro que o casal escondia em casa, levado para simular latrocínio, porque Suzane não teria onde escondê-lo. O rapaz afirmou que, ao perceber a repercussão do crime, ficou com medo de ser pego com o dinheiro e comprou uma motocicleta com ele – o que apressou a solução do caso.

Um dos defensores de Suzane, Mário Sérgio de Oliveira, disse que os Cravinhos "devem ter feito acordo para que um irmão tenha pena e outro não". Para ele "nada é factível". Oliveira ressaltou o fato de Daniel negar ter asfixiado Marísia ou colocado a toalha em sua boca. "Falar é um direito dele e pode mentir à vontade." O assistente de acusação, Alberto Toron, disse que os jurados não se mostraram nada receptivos à versão dos irmãos.

Na platéia, havia pelo menos uma pessoa famosa: a apresentadora de TV Luciana Gimenez. Ela disse que se interessa por assuntos da área criminal.

Júri é formado por quatro homens e três mulheres

São Paulo (AE) – Suzane von Richthofen e os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos entraram por volta das 14h20 de ontem no plenário do Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, onde acontece o julgamento dos três réus do assassinato do casal Manfred e Marísia, em 2002.

Suzane usava um agasalho azul-marinho e calça bege. A todo momento ela olhou para baixo, evitando olhar para os irmãos Cravinhos, Daniel e Cristian, que vestiam agasalho de moletom cinza.

Ao contrário do que esperava a defesa de Suzane von Richthofen, o júri será formado por quatro homens e três mulheres. O advogado de defesa dela, Mauro Nacif, disse que preferia um júri formado apenas por mulheres. Os jurados sorteados são os seguintes: Luiz Soares de Matos, Maria Regina Alexandre, Dimas Mariano de Souza, Dionísio José da Cruz, Cleide Claris, Iolanda de Oliveira Toledo, José Willian Machado de Souza.

Três nomes sorteados antes destes foram recusados por Mauro Nacif. O advogado de defesa tentou tumultuar o início da escolha dos jurados. Além de recusar os três nomes, ele tentou excluir José Willian do corpo de jurados. O advogado alegou que ele não teria isenção suficiente para analisar a perícia feita por seus colegas, porque é agente administrativo da Polícia Federal. Mas como ele está apenas quatro meses na PF, Nacif foi obrigado a aceitar o jurado.

Público

A maioria do público que acompanhará o julgamento de Suzane von Richthofen e dos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos é formada por estudantes e bacharéis de direito, interessados na batalha jurídica que deve durar cinco dias. ?Pretendo vir todos os dias. Essa é uma lição de direito. Também porque não consigo imaginar um crime desses, não consigo me imaginar sem meus pais, ainda mais por causa de dinheiro?, diz Andrey Francisco Silva, estudante de Direito.

O público também espera a condenação de Suzane von Richthofen e dos irmãos Cravinhos. ?A expectativa é que os três sejam condenados?, afirma Suzilei Cristina Mori, também estudante de Direito. Mesmo quem não tem relação com a área criminal, pretende comparecer aos cinco dias de julgamento. ?Acho importante a presença do público, cobrando justiça?, diz a estudante de comunicação Denise Strenger.

Cristian segue versão e nega ter batido no casal

São Paulo (AE) – Cristian Cravinhos foi o segundo a começar a depor, ontem, no primeiro dia do julgamento dos réus confessos do assassinato do casal Manfred e Marísia von Richthofen. O depoimento dele seguiu a linha estabelecida pela defesa. Desta vez, ele negou ter batido no casal com uma pá para matá-los. Em seu primeiro depoimento, Cristian disse que havia batido em Marísia, mas mudou a versão.

Mesmo pressionado pelo promotor Nadir de Campos Júnior, ele negou e jurou pelos pais. A confissão foi feita naquela ocasião para proteger Daniel. Dessa forma, ele esperava que a pena do irmão fosse abrandada. O depoente afirmou ter subido ao quarto do casal, mas não bateu em ninguém. Ficou na janela vendo o irmão bater em Manfred e Marísia. Cristian disse que, depois de ter visto o assassinato, não conseguiu dormir.

Para Mário Sérgio de Oliveira, um dos advogados de Suzane von Richthofen, as declarações dos irmãos são falsas. ?É uma estratégia para que um seja condenado e o outro não. Eles podem falar o que ele quiserem, podem mentir à vontade?, afirmou o advogado, que viu sua cliente começar a falar às 19h50. Até o fechamento desta edição ela não havia concluído o depoimento.

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