A visita ao Brasil do presidente da Radio Caracas Televisión (RCTV), Marcel Granier, está provocando protestos de movimentos sociais brasileiros, que fizeram um manifesto contra o executivo venezuelano. Assinado por várias organizações, entre elas CUT, UNE e MST, o documento intitulado Marcel Granier: persona non grata acusa Granier de realizar uma campanha de "mentiras, calúnias e ódio" contra o "legítimo e democrático" governo de Hugo Chávez.

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Na quinta-feira, Granier esteve na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado brasileiro para expor a sua versão sobre o fim das transmissões da rede, que estava no ar há 53 anos, determinado por Chávez. Segundo o presidente da Venezuela, a RCTV apoiou o golpe que lhe tirou do poder por 48 horas em 2002 e não cumpriu com compromissos legais e fiscais.

Em sua exposição no Senado. Granier chamou Chaves de "populista totalitário" e afirmou que não houve ?golpismo?, mas a defesa da Constituição na Venezuela. A emissora saiu do ar no dia 27 de maio.

Liberdade de expressão

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Para o presidente da CUT, Arthur Henrique, a não renovação da concessão da RCTV não nega a liberdade de expressão. "O que há na polêmica na RCTV é que ela se utilizou de um só lado da história, incitou um golpe contra Hugo Chávez e não atendeu às prerrogativas de um jornalismo imparcial." De acordo com Arthur, "não há impedimento legal" para que Chávez não renovasse a concessão da emissora.

Já o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), autor do convite a Granier, diz que "lamenta" que movimentos sociais, muitas vezes vistos como "apêndice do governo federal? defendam a "escala antidemocrática" que reverbera no governo de Hugo Chávez. Azeredo explica que a vinda de Marcel Granier é essencial para que o Senado avalie as condições de consolidação da democracia venezuelana para entrada do País no Mercosul.

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O Senado brasileiro já havia aprovado uma resolução criticando o encerramento da transmissão da emissora. Na época, o presidente venezuelano chegou a questionar a autonomia da Casa e a acusou de ser um "papagaio que repete o que diz Washington."

O manifesto das entidades sociais também crítica o Senado, com a acusação de que estaria dando proteção a Granier. "Repudiamos a posição dos senadores que cometeram este enorme equívoco, ao dar guarida a este golpista", diz o texto. Azeredo defende o convite e diz que, mesmo que a RCTV tivesse tido participação no movimento golpista, Chávez não pode se valer de uma "demagogia de vingança para justificar um contragolpe baseado na arbitrariedade política?.

Mercosul

O clima no Senado é de não permitir que a Venezuela ingresse no Mercosul, garante Azeredo. "O presidente Hugo Chávez tem demonstrado em vários episódios que a democracia na Venezuela está se esvaindo", diz. Segundo ele, a agenda do presidente venezuelano é baseada no confronto gratuito e no tratamento político para questões econômicas. "O ingresso no Mercosul prescinde de maturidade democrática", afirma o senador.

Em contraponto ao discurso de Azeredo, o presidente da CUT diz que a maturação deveria estar centrada na democratização dos meios de comunicação no Brasil, o que, segundo ele, demonstra que a "democracia brasileira está longe de ser para todos?.