São Paulo – Os novos tempos, com um sindicalista na Presidência da República, e a discussão da reforma da Previdência vão obrigar a Central Única dos Trabalhadores (CUT) a andar no fio tênue entre a oposição radical e o adesismo ao governo. Essas foram as primeiras avaliações do novo presidente da central sindical, Luiz Marinho. O sindicalista foi eleito ontem com 74,68% dos votos dos 2.735 delegados. Representando as correntes de oposição do movimento sindical, reunidos na chapa 2, o sindicalista Jorge Luís Martins conseguiu 25,31% dos votos. A chapa de Marinho terá dezenove e a oposição seis dos 25 cargos na diretoria executiva, ficando na suplência cinco da chapa 1 e dois da chapa 2.
“Se a CUT fizer uma oposição irresponsável ao governo, não estará contribuindo para o futuro do País”, afirmou Marinho. “Da mesma forma, se a central fizer um papel governista, também não estará ajudando para o futuro do País.” Na sua opinião, “a central terá um papel dificílimo de puxar o governo para onde eventualmente ele não esteja indo”.
Esse trabalho, segundo o novo presidente, começa já na quarta-feira, quando a CUT organizará em Brasília uma manifestação de servidores de todo o País contra os principais pontos da reforma da Previdência. O objetivo principal, de acordo com Marinho, é forçar o governo e o Congresso a abrir uma mesa de negociação para discutir algumas mudanças no projeto que está na Câmara. “Vamos mobilizar, insistir, reivindicar e lutar para mudar o conteúdo da proposta do governo”, disse Marinho. “Depois do dia 11, o próximo passo vai depender do governo e do Congresso.”
Oposição
Para chegar à presidência, Marinho enfrentou uma dissidência na central que organizou uma chapa alternativa na tarde de sexta-feira. Os movimentos Fortalecer a CUT e MTS, com o apoio do PSTU, resolveram apoiar a candidatura alternativa de Jorge Luís Martins, representante dos sapateiros de Franca. Na discussão das teses, esses grupos defenderam a oposição total às reformas e a retirada da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 40, sobre a reforma da Previdência. Marinho, porém, já contava com o apoio de mais de 70% dos 2.735 delegados credenciados.
Para o novo presidente da CUT, a central deve estar aberta ao diálogo, mas também precisa se preparar para a eventualidade de uma greve. “Para fazer um bom acordo, você não precisa necessariamente realizar uma greve, mas obrigatoriamente você precisa estar preparado para ela”, observou. “Entretanto, acredito que seja prematuro pautar data de greve agora.”
O essencial, ressaltou Marinho, é que os trabalhadores da CUT estejam mobilizados. “Particularmente, não acredito que a gente consiga fazer com que o governo se dobre às nossas reivindicações sem um processo de mobilização”, explicou. “Devemos forçar a negociação, mas para uma boa negociação não bastam bons argumentos. É preciso combinar também com processo de mobilização.”
Marinho criticou ainda o que considera uma discussão “hipócrita” sobre a taxa de juros. “Tem uma taxa básica com que o governo remunera seus títulos e tem o juro real praticado, quando o consumidor paga até mais de 100% no cartão de crédito ou no crediário”, comparou o presidente da CUT. “Vamos cobrar do governo um calendário de negociação, que passe pelo futuro da economia, e ações para inverter a curva do desespero, desse desemprego recorde instalado no nosso País.”
Nessa negociação com o governo, Marinho disse esperar que a condição de ex-sindicalistas do presidente e de alguns ministros facilite, e não dificulte o processo. “Nós cobraremos um comportamento histórico desses companheiros nessas novas funções”, adiantou o presidente da CUT. Isso, porém, salientou, não significa esperar que o governo atenda a todas as reivindicações. “Quem está no governo não são mais sindicalistas e a tarefa deles hoje não é da CUT, até porque também sofrem pressões de outros lados”, ponderou. “Temos de separar isso muito bem hoje para não dar curto-circuito.”
Marinho já avisou, por exemplo, que a CUT não encampará teses como a oposição total às reformas. “Seria uma oposição irresponsável”, considerou, numa referência às teses defendidas por grupos de oposição no Congresso da CUT. No seu entender, “defender simplesmente a não reforma seria o caminho da derrota para nós”. Ele lembrou o apoio que as reformas têm da sociedade e a força do governo no Congresso. “Se o governo tem força para aprovar as reformas do jeito que foram apresentadas, seria uma irresponsabilidade nossa sermos simplesmente contra.”
Ataque e defesa
Essa discussão interna tomou conta do último dia do Congresso, com discursos emocionados dos dois lados. O ex-presidente da CUT, João Felício, e o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, José Vaccari, defenderam o governo Lula. “Não tenho vergonha de dizer que estou torcendo muito para que esse governo dê certo”, discursou Vaccari.
Na oposição, o primeiro-tesoureiro da CUT e ex-candidato à Presidência pelo PSTU, José Maria Monteiro, voltou a criticar o que considera a posição “adesista” da maioria dos congressistas. “É inaceitável que o governo Lula esteja ajudando a classe trabalhadora a engolir essas reformas”, protestou. “E a história vai cobrar isso de cada companheiro.”