Brasilia – O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), mais do que a simples mudança de rumos, defende uma verdadeira chacoalhada na política social do governo, com a unificação de todos os programas do setor sob um único comando.

– A área social do governo precisa ter um aquecimento, precisa ter um chacoalhão. Precisamos não somente apresentar novos programas sociais, mas unificá-los e fazer principalmente com que cheguem ao conjunto da sociedade que precisa. Minha impressão é que a área social do governo está muito devagar.

João Paulo defende a nomeação de um coordenador para toda a área social. Nos bastidores do Planalto, especula-se o nome do atual ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, para assumir essa função. Mas o presidente da Câmara esquiva-se do assunto:

– Nome é com o presidente da República e com ninguém mais. Acho que essa equipe pode dar conta do recado. Mas precisa de um aquecimento, de alguém que possa assumir efetivamente essa responsabilidade ou essas responsabilidades de fazer e executar esses programas.

Como no título do poema de Carlos Drummond de Andrade que adora declamar, o deputado João Paulo é um claro enigma que sai do distanciamento necessário do seu cargo de presidente da Câmara para, extrapolando os limites da independência constitucional entre os poderes, transformar-se em crítico quase contumaz dos desacertos do governo.

Enigma, porque, coincidentemente, foi um coordenadores da campanha do PT, partido do qual é um dos fundadores ilustres. A clareza para decifrá-lo está no fato público e notório de suas estreitas ligações com o chamado núcleo do poder – o chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o ministro da Fazenda, Antônio Palocci.

Desfazer todo esse mistério do petista que sabe de cor e salteado o “Poema das sete faces”, de Drummond, não é tarefa das mais difíceis:

– As pessoas acham que tudo o que falo é combinado com o Zé Dirceu. Não nego que somos amigos. Talvez, por sermos afinados, acabamos tendo a mesma opinião sobre uns assuntos, o que não impede de divergirmos em outros.

Apesar de não ficarem um dia sem se falar, quando não se reúnem, às vezes, por duas ou até cinco vezes por semana, não se pode dizer que tudo que João Paulo diz seja combinado com Dirceu.

Na sua primeira investida contra o governo, o presidente da Câmara, em café com empresários da Associação Paulista de Supermercados, escandalizou a base parlamentar de Lula e deixou perplexa a oposição com a óbvia constatação de que os governistas estavam batendo cabeça no Congresso.

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