O delegado seccional de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, Benedito Antônio Valencise, reafirmou ontem que o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci coordenou o esquema de fraudes no contrato do lixo e limpeza urbana da prefeitura, quando prefeito. Quinta-feira, em Brasília, por meio de carta precatória, Palocci foi indiciado por quatro crimes no inquérito de Ribeirão (peculato, falsidade ideológica, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro), mas afirmou que qualquer responsabilidade sobre irregularidades deveria ser da ex-superintendente do Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Daerp) Isabel Bordini.
Valencise desconsiderou essa estratégia do ex-ministro da Fazenda. ?O então prefeito (entre 2001 e 2002) era quem coordenava todo o esquema, determinava o que, efetivamente, deveria ser feito e existem provas que demonstram a pessoa que coordenava os atos dos demais nesse esquema fraudulento?, afirmou. ?Pelas provas, ele (Palocci) não foi omisso, não; muito pelo contrário, ele atuou, agiu de forma bastante positiva e foi quem coordenou todo esse esquema, mas é claro que não seriam ordens por escrito?, afirmou, lembrando que foram encontrados vários documentos falsificados somente entre 2001 e 2004. ?É óbvio que ele participou.?
Para não deixar dúvidas de que alguém citou o nome de Palocci durante a investigação, uma vez que o advogado dele, José Roberto Batochio, afirma que isso não existe, o delegado seccional de Ribeirão Preto disse: ?Com a clareza do sol do meio-dia, Rogério Buratti (ex-secretário de Governo da Prefeitura) citou que ele (Palocci) dava as ordens e Isabel Bordini ouvia, atendia e cumpria.? Valencise emendou: ?É claro que ele (Palocci) não deixa de ter a sua responsabilidade, inclusive porque ela (Isabel) obedecia a ordens e determinações dele.?
Uma possível acareação entre o ex-ministro e a ex-superintendente do Daerp não está definida ainda, mas poderá ocorrer para a confrontação de informações. Isabel não trabalha mais para o governo do Distrito Federal e poderá até ser ouvida em Ribeirão, ou em Brasília, por meio de carta precatória. O marido da ex-superintendente, Donizete Rosa, trabalha no Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) como diretor-superintendente. O delegado seccional disse que Buratti, como ex-presidente do Grupo Leão Leão, presenciou algumas reuniões sobre o esquema de desvio de dinheiro público na administração municipal, até mesmo oferecendo dados desde agosto, mas acrescentando alguns detalhes em fevereiro. ?Ele (Buratti) era conhecedor profundo dos fatos?, afirmou. Em fevereiro, o ex-secretário de Governo da Prefeitura de Ribeirão Preto inocentou Isabel e culpou Palocci pelas fraudes.
Para Lula, indiciamento não é comprovação de culpa
São Paulo (AE) – O indiciamento do ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci, pela polícia de Ribeirão Preto pelos crimes de peculato, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro não significa que ele possa ser considerado culpado, nem inocente. A ressalva foi feita ontem, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ?Acho que o indiciamento é o começo de um processo e o fato de alguém ser indiciado não comprova que a pessoa seja culpada ou inocente. Prova que a pessoa tem agora que resolver seus problemas com o Poder Judiciário?, declarou o presidente da República, após visita ao 2.º Feirão Caixa da Casa Própria, no Expo Center Norte, em São Paulo. Segundo Lula, a tramitação dos processos respondidos por Palocci é ?normal?, dentro de um ambiente democrático, no qual ?você tem as instituições que funcionam, o Ministério Público e a Polícia Federal denunciam e você, então, vai se defender no Poder Judiciário?.
Ex-ministro elege vereador de Ribeirão para alvo principal
Brasília (AE) – O ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci elegeu um vereador do PSDB em Ribeirão Preto, Nicanor Lopes, como seu alvo maior para tentar neutralizar a crise que levou ao seu indiciamento quinta-feira, pelos crimes de peculato (desvio de dinheiro público), falsidade ideológica, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro com origem ilícita – delitos que lhe são atribuídos pela polícia por causa do grande aumento do volume de varrição de ruas da cidade que administrou entre 2001 e 2002, situação que teria provocado rombo estimado em R$ 30, 7 milhões. Nicanor é acusador reiterado de Palocci. Há 5 anos, o vereador questiona e põe sob suspeita atos e contratações que o petista fez. As denúncias do tucano deram suporte a parte dos 25 procedimentos de investigação que o Ministério Público conduz sobre Palocci.
Interrogado quinta-feira pela Polícia Civil do Distrito Federal, Palocci disse que ao assumir a Prefeitura de Ribeirão identificou irregularidades no Programa Cidade Limpa, adotado pelo seu antecessor, Luiz Roberto Jábali (PSDB). O programa foi idealizado por Nicanor, que atuou como diretor das administrações regionais e depois secretário de Governo de Jábali. ?O vereador Nicanor Lopes patrocinava o Cidade Limpa e como eu acabei com esse programa ele começou a estimular as denúncias contra mim e contra a minha administração?, acusou Palocci. O sistema de coleta de lixo é o ponto central da acusação que a polícia imputa a Palocci – no seu governo, segundo inquérito dirigido pelo delegado Benedito Antônio Valencise, dobraram os valores relativos à medição da varrição de ruas.
No último ano da administração Jábali, 2000, a planilha de serviços efetuados indicou que as equipes de limpeza atuaram em 273,03 mil quilômetros. Em 2001, primeiro da gestão Palocci, essa quantidade pulou para 544,9 mil quilômetros. A polícia anuncia ter identificado falsas certidões que multiplicaram artificialmente a varrição.
Vereador rebate
O vereador Nicanor Lopes (PSDB) ao saber que o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci o acusou de ?estimular denúncias? contra ele em depoimento à Polícia Civil em Brasília, reagiu: ?Isso é estranho, hein? O Palocci sempre usa esse tipo de argumento para escapar à responsabilidade. É assim que sempre faz na hora em que é apertado. Arruma alguém para assumir a coisa no lugar dele.?
Segundo Nicanor, seu desafeto também agiu assim no caso do molho de tomate com ervilha e em outros episódios polêmicos. ?Ele (Palocci) jogou a culpa em um secretário dele e disse que não assinou nada. Quando foi contratado o Instituto Curitiba de Informática, outro escândalo da administração dele, disse que a culpa era de outro secretário. Quando dei início às denúncias, ele disse que eu estava fazendo política. É corriqueiro, é prática dele empurrar para os outros as coisas erradas que faz.?