No dia 5 de junho, dia mundial do meio ambiente, o Presidente Lula e a Ministra Marina Silva lançaram no palácio do Planalto a Conferência Nacional do Meio Ambiente. Convidado a falar na cerimônia, disse essas poucas palavras.
O Brasil é uma das províncias mais bemaventuradas do Planeta vivo, a Terra. Como mãe generosa, ela nos legou uma riqueza ecológica que representa para todos nós grave responsabilidade. Queremos estar à altura dela.
Dispomo-nos a preservar essa riqueza pelo valor que possui em si mesma, pela alegria que sua beleza nos propicia e sobretudo porque ela garante a sustentabilidade de nosso povo e de nosso desenvolvimento.
Essa riqueza é para nós e para toda a família humana da qual somos membros, junto com outros companheiros e companheiras da comunidade de vida, animais e plantas que precisam dela para continuarem a viver e a co-evoluir e que formam conosco a grande democracia sociocósmica.
Só com mantermos de pé a floresta amazônica com os benefícios que traz para o equilíbrio da biosfera, oferecemos gratuitamente à humanidade 14 bilhões de dólares anuais. Os países poluidores precisam saber disso.
A Conferência do Meio Ambiente surge num momento dramático para a Humanidade, quando nos damos conta dos limites de suportabilidade e de regeneração do Planeta. A combinação do aquecimento do clima com a escassez de água doce pode provocar, daqui a não muito tempo, uma catástrofe alimentar nunca dantes vista. As migrações de famélicos e a desestabilização política poderão abalar a frágil ordem mundial. Queremos fazer a nossa parte na superação dessa crise iminente.
Com a fertilidade de nossos solos e a solidariedade generosa que nos caracteriza, podemos ser a mesa posta para as fomes do mundo inteiro. Não queremos posteriormente aprender do sofrimento o que poderíamos ter aprendido anteriormente com o cuidado e a inteligência.
Acertadamente o governo colocou a Conferência Nacional do Meio Ambiente sob a inspiração do cuidado. O Presidente desde o inicio entendeu a política, primeiramente, como cuidado para com o povo brasileiro em suas carências fundamentais e não como gerenciamento de mercados, de moedas e de índices de inflação. Esse mesmo cuidado quer para com a Terra, com os ecosistemas e com a cadeia de vida. O cuidado protege, exorciza a ameaça de extinção e faz com que tudo viva e dure mais.
Não queremos que nossos filhos e filhas, um dia, se levantem e nos digam: vocês sabiam da gravidade da situação. Poderiam ter suscitado uma nova consciência, introduzido políticas de cuidado, salvadoras de tantas espécies. E não o fizeram. Vocês não amaram o invisível, nós que viemos depois de vocês. Vejam o que nos herdaram. Também nós temos direito a uma Terra saudável.
Oxalá esse governo seja lembrado pelo emergir de uma nova benevolência para com a vida, por uma reverência para com a majestade de nossa natureza, pela forma com que soube conduzir a política como cuidado do povo, pela preservação de nossa Casa Comum e pela alegre celebração do mistério de nossa existência e a de todas as coisas”.
Leonardo Boff
é teólogo. Rede de Cristãos.