Para autoridades de Roraima, a crise provocada pela alta na imigração tem culpado – e não são os cubanos. Com o perfil de estar “só de passagem”, em menor número e com melhor situação financeira, o grupo não enfrenta na capital Boa Vista a mesma resistência que têm sofrido os venezuelanos – estes, sim, apontados pelo governo local como responsáveis por lotar equipamentos de saúde e incrementar a violência urbana.
Anteontem, a governadora do Estado, Suely Campos (PP) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o fechamento temporário da fronteira com a Venezuela.
“Essa migração se mistura com a dos venezuelanos, que é muito mais extensa. É um incremento”, afirma Doriedson Ribeiro, coordenador da Defesa Civil de Roraima, um dos que justificou a ação do Estado junto ao STF. “A gente praticamente não vê cubanos envolvidos em criminalidade ou trazendo impactos sociais.”
Na fronteira Lethem-Bonfim não há delegacia e o controle de entrada é precário, segundo especialistas. “Nós temos uma faixa muito extensa, fica difícil fazer a fiscalização”, afirma Ribeiro. A travessia é feita por via aérea, por meio de companhias menores, ou por estrada. Uma das rotas é pela BR-401, que dá acesso a Boa Vista.
Lá, eles encontram uma “rede de cubanos” que se formou entre os anos 1980 e 1990, com base no curso de Medicina da Universidade Federal de Roraima (UFRR). A maioria dos novos migrantes, porém, prefere seguir viagem. “Fazem migração de trânsito”, diz o professor da UFRR João Carlos Jarochinski, especialista em Relações Internacionais. “Quando chegam já têm passagem para outro lugar, como um país da América do Sul ou Estados Unidos.”
Em geral, os cubanos também recebem aporte financeiro de familiares – outra diferença em relação aos venezuelanos, que chegam sem dinheiro e precisam recorrer a abrigos públicos ou dormir na rua. “A Venezuela vive uma crise social e política, com hiperinflação, pessoas desnutridas e sem acesso a medicamentos”, diz Cleyton Abreu, coordenador do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR), em Boa Vista.
Caminho
A rota adotada pelos dois grupos não é a mesma. Enquanto os cubanos descem da Guiana, os venezuelanos cruzam diretamente a fronteira com o Brasil, usando rodovias ou a pé. Esse percurso já havia sido utilizado por haitianos que se abrigaram na Venezuela após o terremoto de 2010, mas, com a crise, foram os primeiros a buscar refúgio no País.
Outra parcela dos venezuelanos vai para outros países da América Latina e só então faz a segunda migração para o Brasil. “Como o sul da Venezuela é formado por floresta, pessoas que estão no meio urbano, mais ao norte, preferem ir para Colômbia ou Panamá, que ainda têm a facilidade do idioma”, diz Abreu. /
Via Bahamas
Não só por Roraima os cubanos entram no Brasil. Por meio do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), o País aceitou receber um grupo deles que estava nas Bahamas havia dois anos sem perspectiva de ter refúgio na ilha do Caribe. “Nós os acolhemos em 2017 aqui no Rio Grande do Sul”, disse Karin Wapechowski, coordenadora do Programa de Reassentamento Solidário de Refugiados. O Brasil leva em média até dois anos para conceder o refúgio aos solicitantes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.