O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que a existência de movimentos que criticam o governo é natural e faz parte da democracia. Na avaliação dele, vaias e manifestações não são uma ameaça ao regime democrático, como sugeriu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em discurso em realizado no Mato Grosso durante anúncio de investimento em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "Eu não sei a que ele está se referindo. Não acho que manifestar a opinião seja brincar com a democracia. Democracia não é opinião unânime, não é opinião de sua majestade. É opinião do povo", declarou.
"Tem MST, Tem ‘Cansei’, Tem abaixo não sei quem. O PT era mestre em fazer ‘abaixo FHC’. Logo depois da minha segunda eleição, em que eu tive maioria absoluta já no primeiro turno, eles vieram com o abaixo FHC", disse, antes de proferir palestra no lançamento da Revista "Americas Quarterly", no auditório do Itaú Cultural, na capital paulista. "Aliás, é da índole da sociedade democrática. Quem está no governo tem de entender que isso faz parte do jogo. Fazer o quê? Uns cansados, outros acham que é pouco. São percepções, é normal", acrescentou.
FHC avaliou que Lula não sabia o que estava dizendo quando afirmou que as manifestações eram uma forma de brincar com a democracia. "Acho que o presidente Lula, de vez em quando, usa as palavras sem atentar realmente ao significado delas", declarou. Sobre a reclamação de Lula, segundo a qual aqueles que o vaiam são os que mais ganharam dinheiro em seu governo, FHC ponderou que o presidente também tem o direito de reclamar, mas que não deveria levar as vaias tão a sério. "Eu posso dizer isso porque sou doutor em vaias. O PT me vaiava o tempo todo", disse, entre risos.
Para o ex-presidente, entretanto, as manifestações não foram manipuladas e não refletem o sentimento de apenas uma camada social. "Não são só os ricos, que geralmente nem vaiam, porque têm medo. Querem continuar ganhando dinheiro e não vão vaiar o presidente", ponderou.
Ao comentar a recomendação que fez ao presidente Lula, para que fosse mais humilde, FHC disse que o conselho valia para si mesmo. "Acho que todas as pessoas que estão exercendo certas funções têm de tomar muito cuidado, porque a tendência natural é você ficar um tanto assim, não sei, um tanto arrogante, mesmo que não se tenha consciência ou intenção disso", disse. "No caso do presidente, ou ex-presidente, no qual me incluo, deve-se tomar cuidado porque às vezes há momentos em que você não está suficientemente controlado ou alerta, mas um esforço para ser humilde é um esforço sempre bom", finalizou.