Pesquisadores, comunidades científicas e o próprio diretor do Instituto Butantã, Otávio Mercadante, classificaram ontem como “equivocadas”, “lamentáveis” e “tristes” as declarações do ex-presidente da Fundação Butantã Isaías Raw. Na quarta-feira, após o incêndio que destruiu a coleção de cobras e aracnídeos da instituição, única no mundo, Raw questionou a importância do acervo e sua produção científica e a competência dos responsáveis por ele, além de ter defendido prioridade da produção de vacinas.
O diretor do Instituto Butantã, Otávio Mercadante, disse que o órgão “entende como equivocada a avaliação de que a área de pesquisa tenha importância inferior à de produção”. “O professor Isaías Raw é um cientista respeitado internacionalmente, mas sua ponderação sobre as coleções zoológicas está equivocada. Prova disso é que países desenvolvidos têm investido cada vez mais recursos na manutenção e ampliação dessas coleções”, afirmou.
Já a Sociedade Brasileira de Zoologia disse que “é lamentável encontrar um tamanho desprezo sobre o conhecimento biológico” do País. “É como se, durante o velório de um ente querido, a família fosse obrigada a aturar um lunático invadindo o salão, estourando uma garrafa de champanhe e celebrando a ausência definitiva do morto”, compara um texto divulgado por um grupo de pós-graduandos do departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP).
Em resposta a reclamações de que sua gestão não valorizou os acervos, o pesquisador, de 82 anos, disse na quarta que cabe aos pesquisadores do instituto buscar apoio em agências de fomento à ciência. “Se não conseguir, é porque não tem competência”. E questionou as coleções. “Não é para juntar cobra para brincar no laboratório.”
Em nova manifestação feita ontem, por carta, Raw afirmou que já havia recomendado que a coleção não fosse conservada em álcool, pelo risco de incêndio. Também afirmou que o sequenciamento do DNA dos animais da coleção é mais importante que guardá-los.