Crime organizado usa até a Funai

Brasília – O contrabando de penas, ossos e dentes de animais silvestres feito com a participação de funcionários da Funai reúne todas as características do crime organizado, avalia a Polícia Federal. Pelas informações obtidas, a rede atua em vários estados do País a partir de pedidos feitos nos Estados Unidos, Alemanha e República Checa. Até agora, a Operação Pindorama, criada para investigar o contrabando, prendeu onze pessoas – sete das quais funcionários da Funai. Uma prisão também foi feita nos Estados Unidos, Milan Rabrovisky. Dois irmãos de um antigo funcionário do Ibama de Altamira (PA) estão envolvidos no caso.

O chefe da divisão de repressão a crimes contra o meio ambiente e patrimônio histórico da PF, Jorge Barbosa Pontes, avalia que o grupo preso representa metade de uma das várias quadrilhas que atuam no País. “Este é um crime que não vem de hoje. Fruto de um vazio normativo sobre o comércio de produtos indígenas”, comentou.

Pontes afirmou que, usando lojas da Funai como fachada, a Artíndia, funcionários e comerciantes recebiam pedidos do exterior de peças, dentes ou ossos, que eram repassados para os índios de várias etnias. “Havia pedidos que determinavam até mesmo os tamanhos dos dentes dos animais”, descreveu. Nas investigações, correspondências usadas no contrabando com timbre da Artíndia foram encontrados. As encomendas eram remetidas ao exterior polo correio. Mas nunca por empresas especializadas, pois nos países de destino havia o risco maior de serem barrados pela fiscalização. Os depósitos para pagamento das peças eram feitos nas contas dos comerciantes e funcionários envolvidos. “Os índios recebiam quantias ínfimas. Uma peça desta no exterior podia ser vendida até por US$ 4 mil”, disse Pontes.

O coordenador da prisão afirmou que índios têm permissão para matar animais tanto para alimentação quanto para prática de rituais. Os artefatos podem ser produzidos a partir dos animais já abatidos. “Mas o que vinha ocorrendo é que índios matavam animais para cumprir as encomendas”, disse. Em alguns casos, eram meros caçadores: matavam animais e recolhiam as partes encomendadas pelos contrabandistas. Pontes pede a proibição de produtos que levem penas ou garras de animais nas lojas da Artíndia.

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