O fosso que separa as escolas públicas das privadas no País aumentou nos últimos três anos. A distância entre as pontuações obtidas pelos estudantes das duas redes, que chegava a 109 pontos em 2006, cresceu e atingiu até 121 no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) 2009. Mais do que pontuações diferentes, os números indicam níveis de conhecimento distintos em leitura, matemática e ciência.
Isso quer dizer que enquanto o aluno que estuda numa escola particular alcança 519 pontos em média – o nível 3 na escala de proficiência (patamar considerado razoável pelos organizadores da avaliação) -, o da pública (federal, estadual e municipal) faz 398 pontos e não sai do primeiro nível de desempenho.
Em outras palavras, com 15 anos, os alunos das escolas particulares conseguem ao menos ler um texto e extrair sua ideia principal, identificando argumentos contraditórios e pouco explícitos. Também são capazes de relacionar informações com situações do cotidiano. Estudantes da rede pública só entendem informações explícitas e não são capazes de perceber trechos mais importantes numa leitura.
A exceção nessa comparação fica por conta da rede pública federal, um conjunto pequeno de ilhas de excelência mantidas pelo governo federal que organizam todos os anos processos seletivos bastante disputados entre estudantes – e acabam ficando com os melhores alunos. A pontuação deles está próxima da média dos países desenvolvidos.
Em matemática e ciências, a discrepância continua – e também registra aumento. Em 2003, a diferença de pontuação em matemática era de 109 pontos. Em 2006, saltou para 117 – com os estudantes de toda rede pública incapazes de realizar operações com algoritmos básicos, fórmulas ou números primos.
Em ciências, foi de 107 para 115 a diferença de pontuação entre as redes. Nos dois casos, a distância representa mais de um nível de proficiência na escala de conhecimentos. No nível 1, alunos da rede pública não conseguem explicar como ocorrem fenômenos cotidianos, como ciclo da água na natureza.
Repetência
Cerca de 40,1% dos alunos brasileiros repetem ao menos uma série durante a escolaridade básica. O índice do Brasil só é menor que o da Tunísia, que tem 43,2%, e o de Macau, o primeiro lugar, com 43,7%. A repetência de séries é um dos maiores problemas do sistema educacional dos países mais pobres, como é o caso do Brasil. Entre os países mais ricos, é muito raro utilizar a repetência como mecanismo do sistema de ensino. É o caso do Japão, Coreia e Noruega, onde essa mesma taxa é de 0% – o que significa que não há alunos repetindo séries.
No Brasil, a questão é complicada porque há dois tipos de sistema: o seriado e o de ciclos, este também conhecido como progressão continuada. No primeiro, existe uma idade teórica adequada a cada série. Ou seja: o currículo é organizado de modo que disciplinas devem ser cumpridas em um certo período de tempo – denominado série.
Na progressão continuada, não há repetência ano a ano. Os ciclos substituem as séries tradicionais e o aluno só pode ser reprovado ao fim de duas, três ou quatro séries. No ensino fundamental, há dois ciclos – 1.º a 5.º ano e 6.º ao 9.º – e a reprovação só ocorre ao fim dessas etapas. O sistema está previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
A introdução dos ciclos no ensino fundamental dividiu especialistas: alguns enxergavam como uma tentativa de mascarar o problema da repetência, já que não retém as crianças, mesmo que elas não aprendam nada; outros, como um avanço para garantir a permanência e o aprendizado dos alunos.