Foto: Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil

Berzoini: troca de telefonemas.

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O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), integrante da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Sanguessugas, defendeu ontem a convocação do deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) para prestar depoimento na comissão, que investiga a origem do R$ 1,75 milhão que seria usado para comprar o dossiê contra políticos do PSDB. ?É muito possível que ele seja chamado?, disse. Gabeira também quer que a CPMI priorize a investigação no ex-coordenador de Comunicação da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) Hamilton Lacerda, apontado pela Polícia Federal (PF) como ?o homem da mala?.

Lacerda foi identificado como quem, supostamente, entregou o dinheiro ao advogado Gedimar Passos no Hotel Íbis, em São Paulo. ?Evidentemente, ele tem muito a dizer. Ele não tinha aquele dinheiro todo no bolso. Alguém entregou a ele?, disse o deputado do Partido Verde. Gabeira também lembrou que Lacerda, conforme a PF, tinha um telefone secreto – em nome de uma jovem chamada Ana Paulo – que foi intensamente usado na operação. Já existem na comissão parlamentar requerimentos que pedem a convocação do ex-coordenador de Comunicação da campanha de Mercadante e do deputado do PT de São Paulo, pendentes de votação.

Em relação a Berzoini, o deputado do PV afirmou que as ligações ?mostram que, nos dias anteriores à operação, houve uma troca intensa de telefonemas?. Mas o deputado ressalvou que se trata apenas de um indício: ?Tudo o que se tem é a troca de telefonemas. Não temos o conteúdo das conversas.? Na avaliação de Gabeira, a comissão de inquérito deve ouvi-lo, mas após os depoimentos de Lacerda, do ex-secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho Oswaldo Bargas e do ex-diretor de Gestão de Risco do Banco do Brasil (BB) Expedito Veloso, últimos integrantes do grupo de ?aloprados? acusados de envolvimento na compra do dossiê.

A quebra do sigilo telefônico de Bargas mostra que, entre 11 e 14 de setembro, ele ligou para os celulares do deputado do PT de São Paulo 16 vezes. Em outros três casos, há chamadas do comitê de Berzoini para o celular de Bargas. Em 12, 13 e 14 de setembro, o ex-secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho estava em Cuiabá, acompanhando a entrevista dos Vedoin à revista IstoÉ, que trouxe as denúncias de irregularidades contra a administração do ex-ministro da Saúde e atual prefeito de Piracicaba, no interior de São Paulo, Barjas Negri (PSDB).

Caixa dois

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Gabeira e a deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) foram hoje à capital mato-grossense buscar o restante dos documentos do inquérito, que será remetido pela PF cuiabana pelo Correio. Os deputados conversaram, longamente, com o delegado Diógenes Curado Filho, responsável pelas apurações. Para Gabeira, os elementos reunidos pela polícia convergem para a tese de que o dinheiro para a compra do dossiê saiu do ?caixa dois? da campanha do presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva. ?É muito difícil que um indivíduo ou um conjunto de indivíduos isolados consiga levantar todo esse dinheiro. Tem que haver uma afinidade política. Muito possivelmente, houve caixa dois?, declarou o deputado. Para Gabeira, se não aparecerem os donos do dinheiro, Lacerda e Passos devem ser responsabilizados.

Piloto do dossiê é funcionário de governo petista

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Cuiabá (AE) – Tito Lívio Ferreira da Silva Júnior, o piloto escalado para transportar o R$ 1,7 milhão de São Paulo para Cuiabá, parte do dinheiro destinado ao pagamento do chamado ?dossiê tucano?, é funcionário do governo petista no Mato Grosso do Sul. A confirmação foi feita ontem, pelo Diário Oficial em portaria, transferindo o piloto, lotado na Agesul (Agência Estadual de Empreendimentos de Mato Grosso do Sul), para a Assembléia Legislativa, ganhando mais de R$ 4 mil/mês ?com ônus para a origem?, ou seja, continuará recebendo pela Agesul.

Essa informação não consta do depoimento que prestou ao delegado Diógenes Curado, em Campo Grande, na Superintendência da Polícia Federal. Na ocasião, Tito disse apenas ter prestado serviço ao governo do estado, até a gestão do governador Wilson Barbosa Martins (PMDB), entre 1995 e 1998. Ele afirmou ser filiado ao PSDB e que caso soubesse que transportaria membros do PT, não aceitaria o trabalho. ?É o funcionário fantasma mais antigo do governo estadual?, observou um dos deputados estaduais, membro do grupo de oposição ao atual governador, José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT. Outros oposicionistas comentaram que não é uma transferência comum. Para eles, é mais garantido proteger o piloto no Poder Legislativo, garantindo seu emprego, antes que o novo governador André Puccinelli (PDMB), assuma o cargo. A Secretaria Estadual de Administração não pode fornecer ontem informações seguras sobre a forma de contratação de Tito Júnior, se através de concurso público ou uma outra forma. O delegado Curado apurou que Tito é funcionário da MS Táxi Aéreo, propriedade de Arlindo Dias Barbosa, dono também a Air Jet Táxi Aéreo, que transportaria o R$ 1,7 milhão, para Cuiabá.