Brasília – Só não tem cotovelaços. Por enquanto. Estreantes numa CPI de grande repercussão nacional, a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) e os deputados Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) e Eduardo Paes (PSDB-RJ) participam de uma disputa ferrenha que antecede os acalorados debates da CPI: quem acorda mais cedo para conseguir se inscrever e falar primeiro nas inquirições. A lista de inscrições é aberta pela Mesa por volta das 8h30m, mas os parlamentares chegam ainda com o dia escuro e ficam plantados na porta, esperando os funcionários abrirem a sala da CPI.
"A Heloísa Helena é imbatível. É preciso não dormir para conseguir passar na frente dela", diz Antônio Carlos Magalhães Neto. "Eu gosto de perguntar na frente porque pauto o depoimento." Os três disputam com o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) o topo do ranking da chamada "bancada dos decibéis". No dia do depoimento do empresário Marcos Valério, os três chegaram quando ainda estava escuro no corredor das CPIs. Paes achou que tinha chegado primeiro, mas Heloísa Helena já estava lá. O tucano ficou desapontado.
No dia do depoimento dos ex-diretores dos Correios, ele também não conseguiu chegar na frente. "Quando cheguei aqui de madrugada a Heloísa Helena já estava na porta. Ela é uma louca! No dia do Marcos Valério eu madruguei, cheguei aqui e ela já estava lá. Quase bati nela. Gosto de ser o primeiro para fazer as perguntas fresquinhas ", diz Paes, que na terça-feira chegou correndo, ajeitando a gravata e ainda com cara de sono.
Quando os depoimentos começam às 9h, os parlamentares têm ficado na CPI até por 18 horas seguidas, e quando chegam em casa ainda assistem às reprises da sessão. "Chego em casa excitado e não consigo dormir. Ligo a TV e logo tenho que acordar para voltar", diz Paes. "Estão reclamando sem motivo. Dizem que o melhor é ficar por último, pois é de noite que as pessoas assistem à TV Senado", reage Heloísa Helena.
Beijoqueiro
O que antece uma sessão da CPI, só Deus sabe. Beijoqueiro de santo, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) nunca inicia uma sessão da CPI dos Correios sem se benzer. Armado de fé e paciência, ele administrando a mais difícil missão de sua carreira política: levar adiante as investigações de corrupção que respingam no próprio partido e no governo, sem perder a isenção. Até agora está indo bem e tem que administrar os conflitos dos colegas, como os destemperos da senadora Ideli Salvati (PT-SC), ou mesmo os desencontros entre Heloísa Helena e seus pares.
Delcídio está sendo elogiado pela oposição e visto com desconfiança por alguns colegas de bancada. Ele critica os petistas por desqualificarem as denúncias que envolvem o PT e diz que o único caminho é a depuração, o que não impedirá que a legenda emagreça em 2006.
Indagado porque se benzer toda vez que chega na CPI, Delcídio responde: "Eu sou uma pessoa muito religiosa. Sou de uma família de grande religiosidade. Aluno de colégio jesuíta. A minha casa é cheia de santos, muitas bíblias, adoro o Salmo 91, de proteção que diz: "Mil cairão ao seu lado, dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido". Essa Nossa Senhora da Conceição foi me dada por uma militante do PT, está sempre comigo. Em casa, eu tenho a Nossa Senhora Aparecida, que está presente em todos os lugares da minha casa. No meu escritório, na entrada, no meu quarto. Eu sou meio místico também. Ando com preces no bolso, uso escapulário. Não brinco em serviço. Se entrei por uma porta, só saio por ela. Outra mania: beijação de santo. Onde eu passo e vejo um santo, eu beijo".