O ex-presidente da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) brigadeiro José Carlos Pereira amenizou, em depoimento à CPI do Apagão Aéreo, no Senado, as denúncias de que a diretora Denise Abreu e o presidente Milton Zuanazzi, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), tinham interesse na transferência de parte do serviço de carga dos aeroportos de Cumbica, em Guarulhos, e Viracopos, em Campinas, para o Aeroporto de Ribeirão Preto. Denise Abreu, confrontada com a gravação de entrevista concedida à Rádio Bandeirantes, acabou convencendo os senadores de que fez lobby, mas para mudar o perfil do aeroporto. O relator da CPI, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), anunciou que, na próxima semana, vai pedir a quebra de sigilo bancário e fiscal da diretora.
No depoimento de quase cinco horas, o ex-presidente da Infraero recuou da declaração feita ao jornal O Globo, publicada no dia 6 de agosto, de que Denise tinha interesse em manobrar a transferência de cargas para beneficiar o empresário Carlos Ernesto de Campos, presidente da Terminais Aduaneiros do Brasil Ltda. Pereira retirou os termos mais duros da acusação, como ?lobby? e ?manobra?, que teria usado na entrevista.
Denise negou interferência, lobby, manobra e relação de amizade com o empresário. ?O Plano Diretor (para o aeroporto de Ribeirão Preto) não foi aprovado. Apenas dois itens foram aprovados?, disse a diretora. Mas ela foi desmentida em seguida. Os senadores reproduziram a gravação da entrevista à Rádio Bandeirantes em que ela afirma que o Plano Diretor fora aprovado ?rapidinho?. E os dois itens aprovados dizem respeito à configuração do local e à curva de ruído, importantes para levar cargas para o aeroporto.
O senador Demóstenes Torres avaliou que o brigadeiro ?amarelou? na linguagem, mas decidiu que as informações devem ser investigadas, por isso o pedido de quebra de sigilo da diretora. ?Há suspeita de favorecimento a empresas, de ter tentado beneficiar empresário amigo, de usar passagens gratuitas, de ter diárias pagas por empresas privadas?, afirmou o relator. ?Ela desmentiu tudo, mas esse estilo ?Rolando Lero? não nos impressiona?, disse, referindo-se ao personagem interpretado por muitos anos por Rogério Cardoso, ao fim do depoimento da diretora da Anac.
Denise disse que não abriria espontaneamente o sigilo. ?Em um estado democrático de direito, devem existir razões para que se quebre (o sigilo). Não existe uma prova de nada contra mim.?