Cozinhas viram salas de aula em colégios de São Paulo

Lápis e caderno dão lugar a panela e colher de pau. Em vez de giz de cera, as mãos ficam sujas de farinha. Em colégios de São Paulo, a cozinha virou sala de aula. Popular na TV e nas redes sociais, a culinária ganha força como estratégia pedagógica, da educação infantil ao ensino médio. A atividade ajuda a conquistar autonomia e até as disciplinas clássicas, como Ciências, Matemática e Inglês.

“É um aprendizado por experiência. Eles veem a farinha se transformar em pão ou em bolo”, diz Cristine Escudeiro, professora da educação infantil do Colégio Humboldt, em Interlagos, zona sul. Na escola, alunos da educação infantil vão à cozinha uma vez por mês. Além de agradar ao estômago, a ideia é estimular todos os sentidos. “Trabalhamos com cores, cheiros, texturas.”

Esses encantos da gastronomia prendem a atenção de Rafaela Andrade, de 4 anos. Nas aulas, cada criança tem sua tarefa e sua vez dentro da cozinha. “Gosto de mexer na panela”, conta a menina. A aula também é um incentivo à alimentação saudável. Depois de preparar uma salada de frutas, ela hesita em eleger apenas uma preferida. “Gosto de todas.”

Na cozinha infantil, os cuidados com higiene e segurança são importantes. Facas não têm ponta e as pias são adaptadas para os pequenos. “Somos nós que levamos a comida ao fogo e eles não podem mexer nos armários”, afirma Cristine.

Junto e misturado. Já no Colégio Mary Ward, no Tatuapé, zona leste, as turmas de culinária são mescladas, com alunos da educação infantil até o 5º ano do ensino fundamental. A reunião de várias idades até deixa a turma mais agitada, mas tem vantagens pedagógicas, segundo a escola. A ideia é contribuir no desenvolvimento da autonomia e do respeito às diferenças.

“Ajudo bastante os colegas mais novos. Quem já aprendeu ensina para o outro”, relata Gabriel Manes, de 8 anos. O gesto de cooperação se repete em casa. “Às vezes, também vou com minha mãe e minha avó na cozinha”, afirma o aluno, do 3º ano do fundamental, que adora fazer bolo e biscoito de polvilho.

As atividades na cozinha também servem para reforçar aprendizados matemáticos. “Eles usam frações e unidades de medida”, explica Alexandra Grassini, professora do ensino integral da escola. Calcular um quarto de xícara ou trezentos gramas de um ingrediente é um exercício real de Matemática.

“Também treinam a escrita ao copiar a receita, que é trabalhada como um gênero de texto”, diz Alexandra. Outro foco é percorrer culturas pelo paladar. Em uma aula sobre o Sul do País, por exemplo, preparar um quitute dos colonos alemães ensina sobre a tradição local.

Na ponta da língua

No Colégio Stance Dual, na Bela Vista, região central de São Paulo, os chefs mirins usam a cozinha para praticar Inglês. “É bom para aprender o nome dos ingredientes”, diz Violeta, de 9 anos, que também gosta de cozinhar com a família. “No fim da aula, também temos de escrever a receita que a professora ensinou”, afirma a menina, no 4º ano do fundamental.

Ao propor o uso da língua em uma situação cotidiana, o progresso vai além do vocabulário. “O aluno é obrigado a organizar o pensamento. Isso envolve a fluência e a argumentação em Inglês”, explica Helena Miascovsky, coordenadora do idioma no fundamental 1 da escola.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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