Corte em linhas de ônibus é criticado por moradores do subúrbio do Rio

A mudança nos trajetos de ônibus no a partir de outubro – divulgada pela prefeitura como uma racionalização das linhas para evitar o acúmulo de ônibus vazios nas ruas – tem sido encarada com desconfiança por moradores da zona norte carioca. A alegação é de que os itinerários entre os subúrbios e a zona sul foram modificados para dificultar o acesso dos jovens pobres à orla de Copacabana, Ipanema e Leblon. Das 48 linhas, entre encurtadas e extintas, 18 faziam o trajeto até as praias.

Das 18 linhas, seis terminaram e 12 passarão a ter ponto final em Botafogo, Glória (bairros na zona sul mais afastados do trecho nobre da costa) e, principalmente, centro. É o caso do ônibus 474, que a favela do Jacaré, na zona norte, ao canal Jardim de Alah, que separa Ipanema e Leblon). É justamente do Jacaré o grupo de 150 jovens que, em agosto, foi impedido pela Polícia Militar (PM) de chegar à Copacabana, mesmo sem terem cometido delitos. A ação foi feita, segundo a polícia, porque os adolescentes estavam em “situação de risco”, sem dinheiro e sem responsáveis.

De acordo com a Secretaria Municipal de Transportes, que deve detalhar na semana que vem a logística da retirada e modificação dos trajetos, um estudo constatou que 64% das linhas se sobrepõem. A modificação, que só termina em março de 2016, pretende tirar 35% da frota das ruas, na tentativa de reduzir os engarrafamentos e o tempo gasto nos percursos.

“O sistema de racionalização se deu a partir da constatação de que muitas linhas faziam trajetos semelhantes e circulavam com os ônibus muito abaixo da capacidade, prejudicando o trânsito e deixando o sistema desorganizado. Diante disso, a redução de linhas se tornou necessária”, informou a secretaria em nota. De acordo com a nota, as mudanças não impedirão os deslocamentos entre as regiões mais pobres e mais ricas do Rio.

Os moradores que quiserem ir direto para a zona sul poderão pegar linhas que trafegam pelos túneis Rebouças e Santa Bárbara. “Estas estão mantidas”, divulgou a secretaria. É o caso da 438, que seguirá transportando moradores de Vila Isabel e Catumbi (zona norte) até o Leblon.

Nem todos concordam com esses argumentos. “Interpretei como uma medida racista e segregacionista com os moradores da zona norte. Ainda mais nesse contexto que a gente teve recentemente de blitze nos ônibus. A atual gestão (da prefeitura) está interessada em fortalecer mais o que a gente chama de cidade partida”, declarou o bacharel em Relações Internacionais Breno Coimbra, de 23 anos, que criou petição da internet, na plataforma Avaaz, pela manutenção dos ônibus. O movimento já havia reunido 3.536 assinaturas até 17h de quinta-feira, 17.

Morador da Abolição (zona sul), Coimbra costuma pegar a linha 457 (Abolição-General Osório, em Ipanema) nos fins de semana. A condução vai parar em Botafogo em outubro. “Eu pensaria duas vezes antes de ir, de ter que fazer baldeação. Para o pessoal que vai ter que pegar ônibus no centro, pior ainda.”

No Facebook, internautas criaram uma página chamada “Não vai ter extinção de busão” e marcaram um protesto, na Candelária (centro), no próximo dia 1º.

Para José Eugênio Leal, professor de Engenharia da PUC-Rio especialista em logística de transportes, a mudança “faz sentido”, mas deve ser acompanhada pela possibilidade de mais que as duas baldeações previstas atualmente no Bilhete Único Municipal.

“Realmente observa-se um excesso de ônibus na zona sul. Em diversos, locais reduzir o número de ônibus é uma medida correta, mas isso deve ser acompanhado de um bilhete único que tenha mais possibilidade de transbordo”, disse ele.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo