Brasília – A briga pelo controle dos Correios e Telégrafos, estatal gigante com orçamento de R$ 8,5 bilhões neste ano, emperrou mais uma vez a já custosa reforma ministerial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PMDB não abre mão do Ministério das Comunicações, hoje sob o domínio do ex-líder Eunício Oliveira, e muito menos da estatal. Tem plantado lá na presidência da empresa oficial de correios o ex-ministro dos Transportes João Henrique.
O PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), também quer o Ministério das Comunicações, que tem orçamento acanhado, se comparado ao dos Correios – apenas R$ 843 milhões. E, claro, os Correios. ?É o Ministério das Comunicações ou nada?, disse Severino ao ministro da Casa Civil, José Dirceu, para dar a garantia de que o seu partido vai se transferir oficialmente para a base de sustentação do presidente Lula.
Diante da ameaça representada pelo PP, o rachado PMDB se uniu. O ex-líder Geddel Vieira Lima (BA), um dos cabeças dos oposicionistas do partido, propôs um armistício. Ele procurou representantes dos aliados do Palácio do Planalto – entre eles o líder José Borba, o presidente do Senado Renan Calheiros (AL) e o ministro Eunício Oliveira – para um acordo. ?O presidente mandou que nos entendêssemos. É isso que estamos fazendo?, disse Geddel. Em seguida, os principais representantes dos governistas correram para o Palácio do Planalto, onde comunicaram ao ministro da Casa Civil que não abrem mão das Comunicações.
Além do controle dos Correios, por trás da disputa pelo Ministério das Comunicações está uma briga doméstica piauiense. João Henrique, presidente dos Correios, foi deputado pelo Piauí; Ciro Nogueira, o nome do PP para o Ministério das Comunicações, é do Piauí. Ele é filho do ex-deputado Ciro Nogueira, e dele herdou os colégios eleitorais de Pedro II, Piripiri, Piracuruca, Altos e Alto Longá, no região do meio-norte do estado.
Como o PMDB, o PP também não tem unidade interna. Mas se junta quando tem um objetivo comum. Na noite de terça-feira, logo depois de ter decidido que o nome do PP seria Ciro Nogueira e de encontrar dificuldades para convencer o líder na Câmara, José Janene (PR), a aceitar a indicação, Severino resolveu insistir no assunto.
Juntou o próprio Ciro e os deputados Mário Negromonte (BA) e João Pizollatti (SC), e foi à casa de Janene. Conversaram até as 3 da manhã e acabaram fazendo planos futuros para a administração do Ministério das Comunicações e dos Correios. Disseram ainda que sem união teriam dificuldades para vencer a resistência do PMDB. ?O acordo desandou, mas eu, como líder, vou trabalhar para que ninguém nos tome as Comunicações?, disse Janene.
Embora toda a cúpula do PMDB e os líderes governistas considerem que o ministro da Previdência, Amir Lando, já está fora do ministério, ele continua a insistir que não recebeu nenhum comunicado oficial de sua demissão. Mas antes mesmo de conversar com o presidente Lula anteontem à noite, Lando foi procurado pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que o informou da dispensa.
