Ao investigar a suspeita de participação de policiais militares em uma chacina, em Carapicuíba, na Grande São Paulo, que deixou quatro mortos em 19 de setembro, a Corregedoria da PM chegou a uma conclusão: existe uma organização criminosa montada dentro da corporação que vem praticando vários crimes na região. O jornal O Estado de S. Paulo teve acesso ao relatório da Corregedoria com exclusividade. Quatro PMs estão presos.

continua após a publicidade

O relatório encaminhado à Justiça Militar é assinado pelo capitão Rodrigo Elias da Silva. Nele, o oficial pede a prisão dos sargentos Aquiles Rodolfo Coelho de Oliveira e Cristiano Gonçalves Machado e do soldado Luiz Fernando de Andrade, todos do 33º Batalhão.

Segundo as investigações, minutos depois da chacina, os PMs chegaram e mudaram a posição dos corpos. Um vídeo gravado por moradores da região, e exibido pela TV Globo, mostra que as vítimas foram mortas com o rosto voltado para o chão e com as mãos entrelaçadas na nuca. O vídeo mostra a chegada de uma viatura com os policiais. Nas fotos feitas pelos peritos, que chegaram mais de uma hora depois, as vítimas estão em posições diferentes. Para a Corregedoria, os suspeitos modificaram a cena do crime.

Os três PMs, em depoimento, negaram as acusações. Os mortos trabalhavam como entregadores em uma pizzaria e não tinham passagens na polícia. O capitão Rodrigo Elias da Silva afirma que “os crimes foram praticados por organização criminosa” que, segundo as investigações, se juntou para matar supostos responsáveis por roubar a bolsa da mulher do soldado Douglas Gomes Medeiros, que foi preso dias depois da chacina por ter sido reconhecido como um dos atiradores.

continua após a publicidade

Na Corregedoria da PM, uma testemunha disse que as vítimas praticavam assaltos na região e o soldado Medeiros jurou vingança depois que a mulher foi roubada. A testemunha contou também que, logo depois dos assassinatos, PMs lhe disseram: “É, escapou, hein, mas vai morrer mais um monte…”.

O capitão da Corregedoria concluiu que “há um grupo organizado com clara intenção de praticar crimes em Carapicuíba”. “Observamos uma clara divisão de tarefas (executores, acobertamento e dissimulação de local de crime) entre os autores do delito e policiais militares.” E acrescentou que “há elementos nestes autos que denotam unidade de desígnios dos militares em serviço com o militar do Estado de folga para a prática dos homicídios”.

continua após a publicidade

O secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, em recente entrevista, negou a existência de grupos de extermínio ou de organizações criminosas na Polícia Militar. “Existem pessoas que matam”, afirmou.

Governo

Em nota, a Secretaria da Segurança informou que “os termos utilizados pela Corregedoria da PM apenas repetem a tipicidade penal” e Moraes mantém as declarações dadas anteriormente. O caso está em segredo de Justiça.

Execuções

Em menos de três meses, 20 policiais militares foram presos por suspeita de envolvimento em duas chacinas e duas execuções. Nos quatro casos, 26 pessoas foram assassinadas.

Além da chacina de Carapicuíba, em 19 de setembro, com quatro mortos e quatro PMs presos, policiais militares são os principais suspeitos de participar da maior chacina da história, que deixou 19 mortos e 5 feridos, em Osasco e em Barueri, na Grande São Paulo. O crime aconteceu em 13 de agosto. Seis policiais e um guarda-civil estão presos. Outros dois PMs que eram investigados acabaram presos em flagrante por porte de arma e munição irregulares, durante a operação do dia 8.

Em 7 de setembro, dois jovens suspeitos de roubar uma moto foram perseguidos e mortos por PMs do 16.º e 23.º Batalhão, no Butantã, na zona oeste. Fernando Henrique da Silva foi preso e jogado de cima de um telhado. Depois, foi morto com dois tiros. Já Paulo Henrique de Oliveira foi algemado e dominado na rua. Depois, foi executado. Seis PMs foram denunciados e permanecem detidos. Um vai responder em liberdade.

Ontem, a Justiça Militar decretou a prisão de dois PMs suspeitos de matar o vigilante Alex de Morais, de 39 anos, em Sapopemba, na zona leste. No começo, os policiais registraram o caso como atropelamento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.