“Tchê, tenho péssimas notícias.” Foi com essa frase impregnada de sotaque gaúcho e reveladora de uma longa amizade que o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, informou ao delegado Romero Menezes – suspeito de advocacia administrativa, corrupção passiva e tráfico de influência e acusado de ter vazado informações sigilosas da Operação Toque de Midas, que investigava indícios de fraude em licitação para beneficiar a empresa MMX Logística, subsidiária da EBX, do empresário Eike Batista – que ele estava preso. Informado da ordem de prisão de seu principal auxiliar na tarde de segunda-feira, Corrêa teve uma noite insone e chegou ao Máscara Negra – como é chamado edifício-sede da PF – com o roteiro da prisão.
Para não despertar desconfianças e evitar vazamentos, ele não desmarcou a reunião do Conselho Superior de Polícia, que ocorre a cada três meses. Às 9h30, Corrêa abriu a reunião, no auditório com os cinco superintendentes regionais e avisou que precisaria interrompê-la para tomar uma medida “drástica”, pedindo aos presentes que aguardassem seu retorno.
A seguir, Corrêa subiu ao seu gabinete, no 9º andar, e convocou o corregedor da PF, José Ivan Guimarães Lobato, e dois outros integrantes da cúpula: o diretor de Inteligência, Daniel Lorenz, e o diretor da Divisão de Combate ao Crime Organizado, Roberto Troncon. Aos três relatou a ordem de prisão que teria de cumprir naquele instante.
Corrêa mandou, então, chamar Menezes ao gabinete. O delegado chegou às 9h50 em ponto. Corrêa o recebeu em pé ao lado dos três delegados e anunciou: “Tchê, tenho péssimas notícias.” A seguir, deu voz de prisão ao auxiliar e, como manda a lei, leu o despacho do juiz Anselmo Gonçalves da Silva, da 1ª Vara da Justiça Federal de Macapá. Com apenas três parágrafos, sendo o primeiro de qualificação do juiz e o segundo para descrever os tipos penais investigados, o despacho é curto e objetivo. Só no último parágrafo é determinada a prisão temporária de Menezes, com o objetivo de resguardar a coleta de provas.
Corrêa não escondeu a emoção enquanto lia o despacho do juiz. Ele definiu a prisão do auxiliar e amigo de décadas como “um dos atos mais constrangedores e desconfortáveis” da sua vida. “Me poupem dos detalhes”, pediu, ao relatar o fato a outros delegados. Policial experiente, conhecido por sua frieza, Menezes não mexeu um músculo. Perguntou onde deveria assinar, esticou a mão para pegar o papel e disse que estava absolutamente tranqüilo quanto à investigação.
A seguir, foi desarmado e recolhido a uma sala, onde ficou o resto do dia à disposição do delegado encarregado do inquérito e do Ministério Público. À noite, foi transferido para sala especial da Superintendência da PF, no Distrito Federal, onde cumprirá prisão temporária de cinco dias, renováveis por mais cinco.