O corpo do metalúrgico Douglas Henrique de Oliveira Souza, de 21 anos, foi liberado nesta quinta-feira do Instituto Médico-Legal (IML) de Belo Horizonte. Souza morreu depois de cair de um viaduto durante manifestação realizada nesta quarta-feira, 26, na região da Pampulha, que terminou com um confronto entre vândalos e policiais que deixou ao menos mais 14 feridos. Um deles continuava internado nesta quinta-feira.

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Pela manhã, dez pessoas que haviam sido encaminhadas para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS) já haviam sido liberadas. Uma delas foi Daniel de Oliveira Martins, de 28 anos, que também caiu do Viaduto José Alencar no protesto, sofreu fratura exposta num braço e deixou a unidade médica por volta das 9h30.

Já Tiago Antunes, de 24 anos, foi transferido, a pedido da família, para um hospital particular. Antunes foi atingido por um tiro de bala de borracha no olho direito e corre risco de perder a visão. Outras pessoas que sofreram ferimentos leves durante o embate na Pampulha foram atendidas no local dos confrontos por um grupo de médicos voluntários.

Símbolo

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Nesta quinta, a irmã de Souza, Letícia Aparecida de Oliveira, esteve no IML para liberar o corpo dele, que foi encaminhado para ser velado e enterrado em Curvelo, na região central de Minas Gerais, onde mora a família do rapaz. Aparecida afirmou que a mãe, Neide Maria de Oliveira Souza, pediu ao filho que não participasse das manifestações, mas o rapaz não atendeu ao apelo.

De acordo com a irmã de Souza, ele tornou-se um “símbolo” da luta por melhoria na qualidade dos serviços públicos e contra a corrupção que levou milhões de manifestantes às ruas de diversas cidades do País nas últimas duas semanas. “Queria que ele fosse lembrado pelo que ele fez porque estava lá representando quem não pôde ir, quem não teve coragem de ir”, afirmou.

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Além de Souza e Martins, outras quatro pessoas caíram do viaduto desde o início dos protestos na capital de Minas, no dia 15. A estrutura dá acesso da Avenida Presidente Antônio Carlos para a Antônio Abrahão Caram. Apesar de o metalúrgico ter sofrido a queda antes do início do confronto entre vândalos e militares, o local foi palco de embates porque fica pouco antes do cordão de isolamento que a Polícia Militar (PM) montou nas manifestações para impedir que as passeatas chegassem ao Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, onde foram realizados jogos da Copa das Confederações, um dos alvos dos protestos.

Em entrevista à Rede Globo de Televisão na tarde de hoje, o comandante da PM, coronel Márcio Sant’Ana, observou que o viaduto não foi feito para a passagem de pedestres e apresenta risco para os transeuntes porque não tem calçadas, a pista é elevada e as muretas de proteção, baixas. “As pessoas ficam quase inclinadas”, disse, lembrando que, na quarta-feira, havia até pais com crianças no viaduto que se recusavam a atender aos pedidos de policiais para deixar o local. Entre os que caíram da estrutura nas manifestações, estão Caio Augusto Costa Lopes, de 17 anos, e Luiz Felipe de Almeida, de 22, que sofreram fraturas nos braços e pernas.

Prisões

A Polícia Civil anunciou que desta quarta até a manhã de quinta-feira foram presos 79 adultos e apreendidos 30 adolescentes acusados de participação nos tumultos durante as manifestações. Do total de conduzidos, 26 ficaram presos porque foram autuados em flagrante por furtos, roubos e danos ao patrimônio público. Os demais foram ouvidos e liberados, pois a legislação brasileira considera atos de vandalismo crime de menor potencial ofensivo.

 

Entre os menores, 18 ficaram apreendidos e 13 foram liberados por, segundo a polícia, “estarem envolvidos em episódios de menor gravidade”. Ainda conforme a corporação, todos que foram liberados continuam a ser monitorados. Antes do ato de quarta-feira, agentes capturaram quatro acusados de envolvimento em confrontos registrados em outros protestos que tiveram as prisões temporárias decretadas pela Justiça. Também foram apreendidos dois adolescentes por determinação do Judiciário, a pedido da Polícia Civil.

“Lamentavelmente, nós vimos o que aconteceu. Temos de identificar agora quem são essas pessoas”, afirmou o governador Antônio Anastasia (PSDB), referindo-se às investigações que indicam uma organização e premeditação das ações dos arruaceiros. “Já fizemos várias prisões. Porque uma coisa é a manifestação pacífica, perfeitamente democrática, necessária para a pessoa manifestar sua indignação. Outra coisa são as cenas de barbárie a que nós assistimos em Belo Horizonte. Nós temos de saber de onde está vindo isso”, acrescentou.

Limpeza

 

Quinta foi dia de limpeza e de contabilizar os prejuízos causados pelos atos de baderneiros durante a manifestação na região da Pampulha. Os restos de um caminhão, três automóveis e quatro motos que foram queimados pelo grupo foram retirados da Avenida Presidente Antônio Carlos e levados para ruas próximas. Pelo menos outras seis motocicletas retiradas de uma concessionária da Honda invadida pelo grupo também foram danificadas.

Enquanto isso, empresários e funcionários dos estabelecimentos atacados pelos baderneiros tentavam retomar o trabalho em meio à destruição. Além da loja da Honda, cinco concessionárias de automóveis foram completamente destruídas. Ao menos três dessas concessionárias já haviam sido atacadas durante protesto que também terminou em confronto no sábado, 22, e mesmo com tapumes nas fachadas voltaram a ser alvos dos vândalos.