Quarenta e oito horas após ter sido morto durante a ação de reintegração de posse de uma fazenda de Sidrolândia (MS), o corpo do índio terena Osiel Gabriel, de 35 anos, será submetido a uma nova autópsia. Os novos exames serão feitos a pedido do Ministério Público Federal (MPF), no Instituto Médico-Legal (IML) de Campo Grande (MS), por médicos legistas enviados de Brasília pela Polícia Federal (PF).
O pedido para o reexame foi do procurador da República Emerson Kalif Siqueira. Ele considerou que a autópsia feita na quinta-feira (30), logo após o confronto entre índios e policiais, não foi realizada nas condições adequadas. Depois que a morte de Gabriel foi atestada pelo médico que o atendeu no Hospital Beneficente Elmíria Silvério Barbosa, em Sidrolândia, seu corpo foi levado diretamente para o local onde seria velado, e não para o IML, que estava fechado devido ao feriado.
O médico legista Walney Pereira foi então ao local do velório, onde fez a autópsia, atestando que o índio morreu em função de um ferimento à bala no abdômen.
Antes mesmo de receber o resultado do exame, o procurador da República considerou necessário uma análise mais detalhada do caso, para que não restem dúvidas sobre, por exemplo, o calibre do projétil que atingiu Gabriel. O corpo do índio seria enterrado nessa sexta-feira (31), mas seus parentes concordaram com a realização da nova autópsia.
Segundo a PF, 14 adultos e três jovens, todos índios, foram apreendidos durante a ação policial de quinta-feira (30). Os adultos foram ouvidos e liberados após serem indiciados pelo crime de desobediência, cuja pena varia de dois meses a dois anos. A PF diz também ter apreendido três armas de fogo, facões, facas e arcos e flechas em posse dos índios.
A reintegração de posse foi autorizada no início da noite dessa quarta-feira (29) pelo juiz substituto da 1ª Vara Federal de Campo Grande, Ronaldo José da Silva. Segundo a PF, os índios resistiram à ação policial. Os índios, no entanto, dizem ter sido surpreendidos ainda de madrugada pela chegada dos policiais. A própria Superintendência da PF no estado confirmou à Agência Brasil que não conseguiu avisar o Ministério Público Federal e a Fundação Nacional do Índio (Funai) que iria cumprir a decisão judicial e retirar os índios da área.
A fazenda, que pertence ao ex-deputado estadual Ricardo Bacha, fica no interior da Terra Indígena Buriti, declarada pelo Ministério da Justiça como de ocupação tradicional, em 2010. Dos 17 mil hectares reconhecidos, os índios ocupam hoje apenas 3 mil hectares (um hectare corresponde a 10 mil metros quadrados, o equivalente a um campo de futebol oficial).
Uma primeira tentativa de desocupar a área foi abortada pela PF no último dia 20, quando os índios também resistiram à ação policial determinada pela Justiça que, diante do conflito, suspendeu a ordem de reintegração até que proprietários e índios realizassem reunião de conciliação. A reunião aconteceu na quinta-feira (29) e, como não houve acordo, o juiz Ronaldo José da Silva autorizou que a propriedade fosse desocupada.