Porto Alegre (AE) – O coordenador da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, disse ontem que, apesar do Brasil ter uma ?tradição golpista?, não acredita que prosperem ameaças de impeachment num eventual segundo governo petista porque o povo estaria ao lado de Lula.
Apesar da séria de investigações de corrupção envolvendo o governo, Garcia afirma que tentativas de impedimento do presidente seriam como tentar ?ganhar no tapetão?. ?Como no futebol, se ganha no campo, não se ganha no tapetão. Quem está querendo ganhar no tapetão eu acho que vai se dar muito mal?, disse o coordenador, que também é presidente interino do PT.
Em entrevista na capital gaúcha, onde está para preparar a visita de Lula hoje ao Rio Grande do Sul, Garcia afirmou que uma proposta de impeachment não deve prosperar no Congresso. ?Essa hipótese é o sonho de alguns termocéfalos (termo em espanhol que indica pessoas de cabeça quente, que não medem as conseqüência do que falam) da oposição. A tradição golpista no Brasil é uma tradição de longa data?, afirmou, em uma entrevista na capital gaúcha. Garcia lembrou casos de tentativas de golpe contra Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. ?Mas naquelas circunstâncias havia um elemento que estava um pouco ausente de uma participação mais forte no país, que era o povo brasileiro. Como hoje há um indiscutível alargamento no campo político e no da cidadania no país, esse tipo de jogada vai enfrentar dificuldades muito maiores?, garantiu.
Garcia disse ainda que, no próximo mandato de Lula – dito dessa forma, como se o presidente já estivesse reeleito – parte da reformulação do PT terá que ser justamente sobre a relação partido-governo, ampliando o papel de mobilização da sociedade. ?O partido tem que ser um fator importante de mobilização em apoio ao governo, mas ter também posição crítica. Temos que ficar mais próximo ao governo?, explicou.
Na mesma entrevista, o coordenador da campanha de Lula negou ter informações sobre a possível participação do ex-ministro José Dirceu no episódio da compra do dossiê Vedoin. ?Acho um pouco estranho. Parece-me que o José Dirceu tem se dedicado às suas atividades de advogado e ao blog que criou?, afirmou. ?Mas sendo verdade ou não, o que me parece duvidoso, não altera nossa posição de esclarecer os fatos.?
Garcia lembrou que ofereceu a abertura do sigilo bancário das contas do PT à Justiça e aos promotores que investigam o caso do dossiê e pediu ainda que caia o segredo de justiça da investigação. ?O melhor que se pode fazer é abrir a investigação para que se tenha transparência absoluta, que a imprensa seja informada corretamente, sem vazamentos?, disse. ?Nossa preocupação é terminar com esse clima de suspeitas.?
O presidente do PT afirmou que o episódio da divulgação das fotos do dinheiro que seria usado na comprar do dossiê contra tucanos ?é mais grave que uma conspiração contra o PT?. Para o dirigente foi ?um problema de sonegação de informação à opinião pública do país?. Ele argumentou que organizações não governamentais estão avaliando o comportamento da imprensa na eleição e não quis aprofundar sua análise.
?É melhor que essa investigação seja feita por organismos da sociedade civil?, avaliou. Garcia disse que, em sua opinião pessoal, o PT e os partidos terão que pensar sobre os problemas que enxergam com um novo período da política brasileira e os principais órgãos de comunicação também precisarão fazer uma reflexão profunda. ?A impressão que eu tenho é que uma grande parte da imprensa brasileira se dissociou da chamada opinião pública?, acrescentou, em entrevista na sede do PT gaúcho.