A Polícia Militar (PM) confirmou hoje, em entrevista coletiva, que os cerca de 600 manifestantes que realizaram um protesto ontem em Heliópolis, na zona sul de São Paulo, foram convidados a participar do ato por meio de um panfleto que prometia uma cesta básica a quem se juntasse ao grupo. A corporação ainda não tem pistas da autoria dos bilhetes, que foram manuscritos, copiados e distribuídos à população.
“Isso deve ser investigado pela Polícia Civil”, explicou o capitão Maurício de Araújo, do Comando de Policiamento de Área Metropolitano 2, designado pela PM para falar sobre o caso. Questionado se os panfletos teriam sido distribuídos por traficantes em ações corriqueiras de assistencialismo, ele respondeu que a criminalidade costuma fazer tentativas de angariar a simpatia da população, porém, ele não afirmou que a iniciativa atitude esteja realmente ligada ao tráfico.
O capitão disse que a polícia não pretende “ocupar o local, e sim chegar próximo à comunidade que serve”. Ele ainda afirmou que as ações de aproximação junto à comunidade já começaram. “Tanto é que na região do Heliópolis os índices criminais têm caído mês a mês. Nós temos uma redução de homicídio, por exemplo, de praticamente 50% do começo do ano para cá. Nós temos muitos índices criminais reduzidos em razão dessas ações que a Polícia Militar vem tomando.”
A corporação pretende continuar com um patrulhamento no local para que não haja mais situações como as que ocorreram na madrugada e no início da noite de ontem. Na madrugada de hoje, cerca de 45 homens divididos em 15 viaturas do policiamento de área e da Força Tática fizeram o patrulhamento na região, que, conforme o capitão, está com a situação normalizada. “O que acontece agora tem um pequeno defeito na linha de trólebus ali na região, que não tem nada a ver com a ação da PM no local.”
O capitão achou “precoce” afirmar que protestos em comunidades de São Paulo contra a morte de moradores estão se tornando comum. Ele definiu a atuação da PM na manifestação de ontem como “correta, legal e baseada na técnica”. “A ação teve um saldo muito bom, infelizmente, a única exceção que eu faço à ação é o nosso policial militar que saiu gravemente ferido, porque a população não foi ferida. Mesmo os criminosos, os manifestantes, não foram feridos.”
Revolta
A manifestação em Heliópolis começou no início da noite de ontem e a situação na região estava controlada perto das 23h30, conforme informou a PM. A princípio, segundo o capitão Araújo, a protesto estava dentro da lei, mas se tornou ilegal quando foi necessária a intervenção da polícia. Algumas vias principais da comunidade foram bloqueadas e liberadas horas depois.
“Toda manifestação é legal, ela é garantida por lei, inclusive pela Constituição. Só que a partir do momento em que essa manifestação se torna ilegal através de barricadas, através do impedimento das pessoas de ir e vir, através da colocação de fogo – no caso em ônibus, em veículos -, ela se torna ilegal. Então para conter essa situação ilegal a Polícia Militar tem o dever de agir através de ações de controle de distúrbios civis, que foi o caso ontem.”
De acordo com a corporação, 21 pessoas foram detidas por vandalismo, resistência e desobediência. Um capitão da PM foi atendido no Hospital de Heliópolis com traumatismo craniano. Seu estado de saúde é estável, porém grave. Nove veículos foram incendiados – três ônibus, dois micro-ônibus e quatro carros de passeio.