As chuvas e enchentes ameaçam prédios e bens históricos únicos, remanescentes da Real Fábrica de Ferro de Ipanema, a primeira siderúrgica brasileira, em Iperó, a 130 quilômetros de São Paulo. As águas do Ribeirão Ipanema passavam, ontem, sobre o vertedouro da Represa de Heideberg, a primeira grande barragem do Brasil, construída em 1811. A enchente alagou a Casa da Guarda, construída na mesma época, e atingiu a Porta da Maioridade, moldada em ferro, em 1841, para marcar a emancipação do imperador d. Pedro II. O portal foi inaugurado pelo próprio imperador, em 1846.
A abertura das comportas para evitar o rompimento da barragem fez a força das águas colocar em risco também o prédio da Fábrica de Armas Brancas, construído em 1865 com pedras de cantárida. Surgiram grandes fendas no piso sobre o canal e infiltrações na parede. Todo o conjunto é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e, com o sítio dos Altos-Fornos, não atingido pela enchente, foi declarado patrimônio universal pela Associação Mundial de Produtores de Aço, com sede nos Estados Unidos.
O sítio histórico fica no interior da Floresta Nacional (Flona) de Ipanema, mantida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O chefe da Flona, Alexandre Cordeiro, disse que o assoreamento da represa agravou os efeitos da cheia. “A capacidade de segurar a água está muito reduzida e tivemos de abrir as comportas para reduzir o risco para a barragem.”
A represa produziu energia hidráulica para a fabricação de ferro entre 1811 e 1912, quando a fábrica foi desativada. Cordeiro vai pedir uma verba de emergência ao governo para desassorear o lago e refazer as vedações da barragem. “São necessários cerca de R$ 4 milhões”, disse.
