O “conjunto histórico” e os tradicionais doces do município de Pelotas (RS) foram reconhecidos como patrimônio nacional na terça-feira, 15. A decisão foi tomada na 88ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, ligado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O Conjunto Histórico de Pelotas passa a ser considerado Patrimônio Cultural Brasileiro. Ele reúne a Chácara da Baronesa (atual sede do Museu da Baronesa), a Charqueada São João (de 1810, onde foi filmada parte da minissérie “A Casa das Sete Mulheres”, da TV Globo), o Parque Dom Antônio Zattera e as praças José Bonifácio, Coronel Pedro Osório, Piratinino de Almeida e Cipriano Barcelos.
Segundo o Iphan, o conjunto tem “significativo valor histórico, artístico e paisagístico”. Por isso, poderá ser inscrito em três livros de tombo: “Livro do Tombo Histórico”, “Livro do Tombo de Belas Artes” e “Livro do Tombo Arqueológico”, etnográfico e paisagístico.
“Juntos, apresentam valor histórico diretamente relacionado a, pelo menos, dois momentos de desenvolvimento econômico regional: o do charque (1800 a 1900) e o do início da industrialização (1900 a 1930)”, informou a instituição.
O conjunto reúne remanescente da arquitetura colonial luso-brasileira e, também, de arquitetura eclética. “A riqueza do charque permitiu o desenvolvimento de uma arquitetura eclética de alta qualidade, com manifestações significativas que chegaram às duas primeiras décadas do século XX. Em seu tempo, a qualidade urbana e arquitetônica de Pelotas foi complementada e potencializada com ações pioneiras de embelezamento, abastecimento e saneamento urbanos, o que pode ser constatado pelo desenho das praças públicas, pelo conjunto de caixa d’água e chafarizes do século XIX e pelo urbanismo sanitarista do início do século XX”, divulgou o Iphan.
Doces
O Conselho Consultivo também decidiu reconhecer como patrimônio imaterial do Brasil as “Tradições Doceiras da Região de Pelotas e Antiga Pelotas” – que abrange também os municípios gaúchos de Arroio do Padre, Capão do Leão, Morro Redondo e Turuçu. Dentre os doces, divididos entre finos e coloniais, estão a marmelada, o quindim, a pessegada, o camafeu e o figo em calda.
Com a decisão, as “Tradições Doceiras” serão inscritas no Livro dos Saberes nacional. “Mais do que simples quitutes, eles representam um importante contexto histórico e cultural que elevam seu significado para além da função de alimento”, informou o Iphan.
De origem majoritariamente portuguesa, os doces também têm influência da imigração de africanos, alemães, franceses e espanhóis, dentre outros, no século 19. “Essas tradições, nascidas da combinação do sal com o açúcar, se articularam na formação da sociedade local e se integram em processos mais amplos, relativos à constituição da fronteira meridional brasileira e à construção simbólica da nacionalidade, processos nos quais se fazem presentes temas sensíveis como a escravidão, o acesso à terra, a imigração, dentre outros”, divulgou o Iphan.
Entre 2006 e 2008, os doces da região foram inventariados pelo Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Atualmente eles passam por um processo de certificação de origem da Associação dos Produtores de Doces de Pelotas.
O pedido de registro foi feito pela Secretaria Municipal de Cultura de Pelotas e pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Pelotas (CDL). De acordo com nota divulgada pelo Iphan, o “registro das ‘Tradições Doceiras’ tem por finalidade reconhecer e valorizar bens de natureza imaterial em seu processo dinâmico de evolução, possibilitando uma apreensão do contexto pretérito e presente dessas manifestações em suas diferentes versões”.