O PMDB e o PT fecharam um acordo hoje para indicar os futuros presidentes do Senado e Câmara, respectivamente. Pode ser o primeiro passo para uma provável adesão do PMDB ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Amanhã, o presidente eleito encontra-se em Brasília com o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), para buscar o apoio dos peemedebistas no Congresso.

O PT já conta com os apoios do PTB, PDT, PPS, PSB, PV, PC do B, PL e PMN. Uma aliança com o PMDB garantiria maioria nas duas Casas para o governo petista: 294 deputados e 49 senadores.

O PMDB, único partido que apoiou formalmente a candidatura derrotada do presidenciável tucano José Serra, poderá ser o primeiro da base aliada do presidente Fernando Henrique Cardoso a aderir ao governo de Lula. Hoje, a executiva nacional do PMDB se reuniu com os governadores eleitos e resolveu que vai consultar as suas bancadas na Câmara e no Senado para formalizar um eventual apoio ao futuro governo. “Não há uma decisão ainda se o PMDB fica ou não na oposição”, disse o líder do partido na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA).

Mas os peemedebistas já decidiram que vão dar “governabilidade” no Congresso ao futuro presidente. “O PMDB não pode ir para oposição; tem que dar sustentação ao governo principalmente neste primeiro ano”, afirmou o governador eleito do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto. “Esse apoio tem que ser incondicional”, completou o governador eleito de Santa Catarina  Luiz Henrique.

À exceção do governador eleito do Paraná, Roberto Requião, os demais peemedebistas são unânimes em garantir que o partido não deve ter cargos no futuro governo. “Vamos garantir a governabilidade, mas sem participar com cargos”, disse o senador Carlos Bezerra (MT). “Essa história de governabilidade vai depender muito mais de uma agenda mínima, que o governo eleito ainda não apresentou”, ponderou Geddel.

Com o acordo fechado hoje entre o PT e o PMDB para as presidências da Câmara e do Senado, uma possível aliança entre peemedebistas e tucanos no Congresso fica inviabilizada. “Não temos nenhuma condição de fazer bloco de oposição com o PSDB”, afirmou o deputado Eunício Oliveira (CE). “Depende do objetivo do bloco: se for para criar dificuldades adicionais para o governo que se instaura como, por exemplo, disputar a presidência da Câmara, não concordamos. Mas se for um bloco para discutir teses e propostas podemos pensar”, argumentou o líder do PMDB.

Na reunião da executiva do PMDB com os governadores eleitos, Jarbas Vasconcellos, governador de Pernambuco, foi enfático ao criticar a postura do ex-presidente e senador José Sarney, que vem fazendo campanha para ser o presidente do Senado. “Não aceito negociação que vá por cima dos canais institucionais. Quero dizer que José Sarney nem membro do PMDB tradicional é. Tanto que ele não está aqui”, argumentou Jarbas. Defendeu ainda que o PMDB não tenha pressa em decidir se apoia ou não o futuro governo. “O Jarbas disse que não devemos nos apressar e temos de esperar para ver o que vai acontecer. Até agora, o Lula só apresentou uma proposta, que é a do combate à fome”, observou o senador Ney Suassuna (PB).

A reunião de hoje do presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), com o presidente Michel Temer serviu para formalizar com a cúpula peemedebista as negociações em torno da presidência do Senado. Estas negociações estavam sendo feitas isoladamente pelo ex-presidente Sarney, que apoiou desde o primeiro turno das eleições a candidatura de Lula à presidência.

Lula teria preferência por Sarney para presidir o Senado, mas no encontro de hoje os petistas fizeram questão de deixar claro que a indicação do nome cabe exclusivamente ao PMDB. O outro candidato é o líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), que conta com o aval da direção do PMDB para pleitear a presidência do Senado.

Segundo interlocutores do PT, no encontro de hoje entre a cúpula peemedebista e petista ficou decidido também que nos Estados onde for possível os dois partidos farão alianças. Seria o caso, por exemplo, do Paraná, onde Requião contou com a ajuda dos petistas para se eleger.

Encontros

O presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), disse que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva pretende se encontrar com a executiva de todos os partidos, inclusive o PSDB, o PFL e o PPB, que prometem fazer oposição ao futuro governo. Dirceu fez questão de destacar ainda que o acordo entre petistas e peemedebistas limita-se às presidências da Câmara e do Senado. “Não tem uma aliança de governo com o PMDB”, afirmou Dirceu.

A cúpula do PMDB também fez questão de deixar clara esta posição em nota divulgada ao fim da reunião da Executiva Nacional do partido com os governadores eleitos. “O PMDB resolve o seguinte: destacar que após conhecer os projetos a serem apresentados pelo futuro governo, irá, ouvidas nossas bancadas, aprovar aqueles que coincidirem com os interesses do País e nosso programa partidário”, diz a nota.

Ao fim do encontro, que durou cerca de três horas, o governador reeleito de Pernambuco, Jarbas Vasconcellos, defendeu que o PMDB assuma uma postura de “oposição responsável” ao governo de Lula. E alertou que essa postura não pode se transformar em “ranço eleitoral”. “Não se pode transformar isso em birra, só por votar contra o PT”, disse. “Seria um mero ranço eleitoral de derrotado.”

Jarbas elogiou também ao acordo entre o PMDB e o PT para as presidências do Congresso, mas criticou o ex-presidente José Sarney por ter se lançado como candidato do partido à presidência do Senado. “Sarney não é do PMDB. Ele não tem nada a ver com o partido”, argumentou.

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