Uma substância descrita na última edição da revista científica Nature apresentou grande eficácia contra o vírus da hepatite C. O composto, batizado de BMS-790052, impede a replicação do microrganismo e poderá ser um dos principais ingredientes de um futuro coquetel contra a doença.

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Cerca de 200 milhões de pessoas estão infectadas com o vírus da hepatite C no mundo. Um porcentual significativo – de 30% a 40% – pode desenvolver doenças hepáticas como cirrose e câncer. Estima-se que 70% dos pacientes na fila de transplante de fígado carreguem o vírus.

O único protocolo terapêutico disponível prevê injeções de interferon alfa e comprimidos de ribavirina. Os remédios não agem diretamente sobre o vírus, mas melhoram a resposta do sistema imunológico. Contudo, têm efeitos adversos sérios, que vão de dor de cabeça e náusea a alterações comportamentais.

Como o calvário dura de 24 a 72 semanas, muita gente desiste no meio do caminho. A eficácia também não é boa. Nas pessoas infectadas com o genótipo 1 do vírus – o mais comum no País -, menos de 50% dos pacientes respondem de forma satisfatória.

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No Brasil, os doentes precisam assinar um termo de consentimento informado para ter acesso aos remédios pelo Sistema Único de Saúde. Além disso, o tratamento é caro: só o interferon alfa pode custar R$ 18 mil, sem contar a ribavirina e exames para verificar a resposta à terapia.

Tal cenário criou uma verdadeira corrida das indústrias farmacêuticas para identificar substâncias que poderiam combater diretamente o vírus. Uma revisão de estudos publicada na revista Viruses há três semanas enumera 28 compostos que já estão na mira dos fabricantes.

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Estratégia

Como o HIV, o vírus da hepatite C apresenta alta taxa de mutação. Qualquer terapia vai exigir um coquetel de drogas para explorar mais de um ponto fraco do vírus.

Apenas dois candidatos estão na fase 3 de testes em seres humanos (a última etapa antes da aprovação para venda): o telaprevir – da Vertex Pharmaceuticals – e o boceprevir – da MSD. O telaprevir e o boceprevir agem sobre uma proteína que o vírus utiliza para coordenar seu processo de replicação: a NS3.

O BMS-790052, descrito na Nature, desativa outra proteína – a NS5A. Ainda está na fase 2 de testes em seres humanos, mas já traz resultados promissores: de todas as substâncias estudadas apresentou a mais alta eficácia na menor concentração.

Os testes envolveram 16 pacientes com, no mínimo, 100 mil vírus por mililitro de sangue analisado. Cerca de 100 microgramas do BMS-790052, administrado por via oral, derrubaram a carga viral para até 18 vírus por mililitro de sangue, no limiar do que os testes mais avançados conseguem detectar (aproximadamente 10 vírus por amostra). O efeito persistiu por seis dias após o tratamento.