Compadre de Lula pode ter sido avisado sobre grampos

Dario Morelli Filho, o amigo e compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva preso na Operação Xeque-Mate, na semana passada, pode ter sido informado antecipadamente por alguém de Brasília sobre o monitoramento dos envolvidos na máfia dos caça-níqueis feito pela Polícia Federal. Os grampos citados no inquérito revelam que Morelli alertou o suposto chefe da quadrilha, o ex-deputado estadual paranaense Nilton Cézar Servo, para que ele tomasse cuidado com os telefones e acrescentou que havia ocorrido "um pepino feio".

Entre 11 e 17 de maio, pelo menos sete conversas gravadas indicam o suposto vazamento de informações. Mostram ainda um encontro marcado por Morelli entre Servo e o ex-deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), que foi vice-líder do governo.

Segundo as conclusões preliminares da PF, Morelli era sócio de Servo em uma casa de caça-níqueis em Ilhabela, no litoral paulista, e corrompeu policiais para atuar ilicitamente. Outras gravações de conversas – entre Morelli, Servo e sua mulher, Maria Dalva Martins – mostram outros personagens em busca de informações privilegiadas no governo, além de Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão do presidente Lula.

Os envolvidos mostram-se preocupados com as ações da Polícia Federal contra a máfia das caça-níqueis ao deflagrar a Operação Hurricane. No entanto, estão confiantes de que seus contatos com pessoas ligadas ao governo poderiam livrá-los de problemas. No 11 de maio, por exemplo, quando falam sobre os estragos da Hurricane, Morelli sugere a Servo que registre um telefone em seu nome, pois acredita que, ao verem de quem se tratava, os policiais pensariam "duas vezes em fazer qualquer coisa". A partir do dia 16, a situação começa a mudar.

"Pepino feio"

Às 12h35, Morelli telefona para Servo e diz que precisa conversar sozinho com ele, porque "deu um pepino feio". O suposto chefe da máfia pergunta: "É comigo?". O compadre de Lula responde que não sabe, "precisa ver". Duas horas depois, Servo telefona para a mulher – também presa na Operação Xeque-Mate – e diz que marcou um encontro em uma pizzaria, porque Morelli não queria ir à empresa Multiplay, fabricante de máquinas caça-níqueis. De acordo com Servo, "por causa desse negócio de telefone, já teve comentário lá de cima".

Para a PF, a declaração reforça a suspeita de que a conversa girava em torno do monitoramento. Mais tarde, às 22h32, conversa entre Servo e a mulher reforça as suspeitas da PF. Nela, o empresário afirma que Morelli "é amigo até debaixo de água" e "não ficou nem preocupado que grampearam o telefone dele também". Servo afirma, em seguida: "Lá em cima, de Brasília, que grampearam." Na mesma conversa, Servo concluiu informando à mulher que no dia seguinte iria a Brasília para falar com Sigmaringa. "Morelli vai (trecho ininteligível) fazer um escândalo", adianta.

"Costas Quentes"

O encontro de fato foi marcado por Morelli, no dia seguinte. Não há, porém, nenhuma referência específica sobre qual assunto seria tratado entre o ex-líder do governo e o chefe da máfia das caça-níqueis, às vésperas da operação a ser deflagrada. A conversa entre o ex-deputado e Morelli é inconclusiva. Às 17h07 do dia 17, Morelli ligou para Sigmaringa. O amigo do presidente Lula avisa que está em Brasília com um amigo – referência a Servo, conclui a Polícia Federal – para conversarem. O ex-deputado, chamado de "Sig", diz ter uma reunião no Palácio e sugere marcarem a conversa para mais tarde.

Para a PF, Morelli e Servo tinham sociedade numa casa de caça-níqueis em Ilhabela, registrada em nome de um laranja. Várias conversas mostram que os dois corrompiam policiais para evitar apreensões e contavam com "as costas quentes" de Morelli não só no governo federal, graças à sua amizade com Lula e integrantes do PT. Em uma conversa entre Morelli e a mulher de Servo, ele reclama de policiais que teriam apreendido máquinas. Dia 18 de maio, às 19h58, Morelli fala de novo com a mulher de Servo e comunica que fecharam a casa de jogos Deck Vídeo Bingo e o responsável era "o delegado seccional". Confiante, porém, ele garante: "Segunda-feira ele vai abrir aquela p…". O compadre de Lula conta que iria até a Secretaria de Segurança: "Eu tenho um diretor lá.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo