Após utilizar o tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira” em 2015, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2016 abordou mais uma vez a questão do machismo. A questão 7 da prova de Geografia relacionou uma propaganda de 1968 com os comentários machistas publicados por internautas em resposta à notícia de 2016 que falava sobre uma equipe da Nasa a qual metade eram mulheres.
A propaganda em questão trazia uma mulher com capacete de astronauta segurando um produto de limpeza junta à frase “A mulher levará a limpeza para a lua”. A missão do aluno era falar sobre que traço social a comparação das duas coisas evidenciava.
Célio Tasinafo, diretor pedagógico da Oficina do Estudante, de Campinas, no interior de São Paulo, explicou que a prova de Ciências Humanas, de um modo geral, priorizou temas transversais, como tolerância e direitos humanos. “O anúncio de 1968 dava a impressão de que as mulheres seriam só faxineiras. A notícia da Nasa mostra a mulher em pé de igualdade de conhecimento com os homens”, interpreta.
Progresso
O diretor pedagógico afirma que o aluno, nessa questão, deveria chegar à conclusão de que houve uma quebra de estereótipos entre os homens e mulheres. A abordagem, no entendimento do professor, é diferente de uma questão da prova do ano passado, que pedia para o aluno avaliar a contribuição de proposições da filósofa Simone de Beauvoir. “A questão do ano passado parecia militância feminista. A desse ano, não. Mostra os avanços e a igualdade que as mulheres conseguiram”, avalia.
Tainá Albuquerque, de 17 anos, fez a prova pela primeira vez, e elogiou a prova de Ciências Humanas, que além do machismo, trouxe também questões sobre racismo e xenofobia. “São temas que estão no nosso dia a dia, por isso é mais fácil de entender e saber resolver. Eu, por exemplo, leio muito sobre esses assuntos”, disse, destacando a questão sobre o número de mulheres astronautas.
Assim como ela, Estefan Alvarenga, de 24 anos, fez a prova e disse ter gostado da presença de temas desse tipo no exame. “Eu achei uma questão muito boa, é importante tratar de um assunto atual e mostrar que, apesar de em 1968 o machismo ser descarado, ainda há machismo em 2016, mesmo que mascarado pela internet”, disse.