A Comissão da Verdade pediu os documentos encontrados em Minas Gerais que revelam torturas sofridas pela presidente Dilma Rousseff durante a ditadura militar (1964-85).
Os papéis, arquivados no Conedh-MG (Conselho de Direitos Humanos de Minas Gerais), em Belo Horizonte, foram divulgados ontem pelo jornal “Estado de Minas”.
O testemunho de Dilma, de 2001, foi prestado a integrantes do conselho e narra sessões de tortura em Juiz de Fora (MG), para onde ela foi levada em janeiro de 1972.
Presa durante quase três anos na ditadura, sabia-se até então que ela havia sido torturada por militares em São Paulo e no Rio.
Instalada pela presidente no mês passado para apurar as violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, com foco no período da última ditadura, a Comissão da Verdade destacou um assessor para viajar a Belo Horizonte para obter os documentos. A decisão foi tomada hoje por José Carlos Dias e Maria Rita Kehl, dois dos sete membros, que se reuniram em São Paulo.
“Os depoimento, inéditos, revelam graves violações aos direitos humanos. Devemos investigar”, comentou José Carlos Dias.
Gilson Dipp e os demais membros do colegiado disseram que, até o momento, não há necessidade de convocar a presidente –mas não descartam a possibilidade de ouvi-la sobre as torturas sofridas no período. “Os detalhes [do depoimento] são pesados e doloridos”, afirmou Dipp.
No documento só agora encontrado, Dilma descreve os tipos de tortura a que foi submetida, como pau-de-arara, choques elétricos e palmatória, e diz ter recebido socos no rosto.
“Minha arcada girou para o outro lado, me causando problemas até hoje, problemas no osso do suporte do dente. Me deram um soco e o dente deslocou-se e apodreceu”, relatou ela, de acordo com o jornal. “Só mais tarde, quando voltei para SP, o [capitão Alberto] Albernaz completou o serviço com um soco, arrancando o dente.”
A correção da arcada dentária foi uma das cirurgias a que Dilma se submeteu às vésperas da campanha presidencial de 2010. “A pior coisa é esperar por tortura”, diz ela no relato de 2001. “As marcas da tortura sou eu. Fazem parte de mim.”
Em 2002, Dilma recebeu indenização de R$ 30 mil pela prisão em Minas. Em 2009, em nota sobre a indenização, a Casa Civil, então chefiada por Dilma, cita sua prisão, mas não menciona torturas.