Campinas – SP
– Com investimentos de R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões por ano, durante quatro anos, grande parte do problema da fome no Brasil seria resolvido, defendeu ontem o professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, Walter Belick. De acordo com ele o grande desafio, maior que obter os recursos, será criar mecanismos para garantir que o objetivo seja alcançado.A questão foi discutida durante um seminário sobre Segurança Alimentar, na Unicamp, coordenado por Belick. Segundo ele, há dois tipos de segurança alimentar, a segurança de que a oferta de alimentos irá suprir a demanda e a de que a população terá acesso a esses alimentos. No primeiro caso, o Brasil não enfrenta problemas, conforme o professor, já que a produção per capita de alimentos por dia no País, excluindo-se as exportações, é de 2.800 calorias e a necessidade calórica dos brasileiros, de 1.900.
Na definição da necessidade calórica, interferem itens como clima, dieta e constituição física. Uma vez que a produção é suficiente, a questão é como fazer para que os famintos tenham acesso aos alimentos produzidos. Programas sociais de distribuição de renda, com a exigência de contrapartida, como o bolsa-escola, são boas alternativas, apontou o economista. Mas ele disse que a parceria do governo com a iniciativa privada e a sociedade civil serão determinantes para viabilizar novos mecanismos para a distribuição de renda ou alimentos e fiscalização de seu uso adequado.
O convênio prevê que a Ceasa não tenha responsabilidade jurídica sobre o material distribuído, o que representa um grande entrave na questão da distribuição de alimentos. Grandes atacadistas preferem descartar produtos não aptos para o comércio porque temem ser responsabilizados caso haja algum problema com o consumo.
Ele disse que é preciso mudar a legislação, o que já está em estudo no Congresso Nacional. Ele apontou que a parceria dos centros distribuidores de alimentos com esferas do governo poderia resultar em grandes doações à população carente, nos moldes do projeto criado em Campinas, que deverá começar a operar no começo do próximo ano. O engenheiro agrícola e vice-reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge, estima que o desperdício na cadeia produtiva, da plantação ao comércio, seja suficiente para alimentar um terço dos famintos do País.
Belick acrescentou ainda que serão necessárias ações educativas para que as pessoas abaixo da linha da pobreza possam obter alimentos saudáveis no locais onde vivem. Ele citou a agricultura de subsistência como alternativa em algumas regiões do Nordeste. “Há lugares em que o morador compra feijão e ovos na venda, quando poderia criar galinha e plantar uma horta de feijão no quintal, e até vender o excedente . Mas não o faz porque não sabe como manejá-los”, apontou.