Lula e o general: presidente ditou o
texto da nota para Albuquerque assinar.

Brasília – O comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, ficou em situação ainda mais delicada no governo depois de ficar claro na sexta-feira que, se dependesse só dele, o Exército não se retrataria da nota divulgada no dia 17 de outubro, em que justificava a repressão ao “movimento subversivo” e se queixava de revanchismo na divulgação das fotos erroneamente identificadas como do jornalista Vladimir Herzog, morto em 1975 no DOI-Codi de São Paulo.

Nas duas versões iniciais da correção que o Exército apresentou, por determinação expressa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Albuquerque não mencionou os excessos da ditadura e nem lamentou a morte de Herzog. O tom de reparação só aparece numa terceira versão, divulgada depois de uma tensa reunião entre Lula, o então ministro da Defesa, José Viegas, e o próprio Albuquerque na Base Aérea, no dia 19 de outubro.

As duas primeiras versões da nota enfraquecem os argumentos do general. No início da crise, Albuquerque sustentou que a nota que justificava a repressão fora divulgada sem seu conhecimento prévio. Na tarde do dia 17, quando a nota foi divulgada no Correio Braziliense, Viegas exigiu, por escrito, explicações de Albuquerque. “Vossa Excelência autorizou a divulgação da nota? Em caso de resposta afirmativa, por que Vossa Excelência não me consultou antes do envio da nota ao jornal? A quem cabe a divulgação da nota nestas circunstâncias?”, indagou o ministro. O general foi à casa de Viegas apresentar suas explicações, mas o ministro exigiu a resposta por escrito.

No mesmo ofício Viegas enumera itens que o desagradaram na primeira nota. “O Ministério da Defesa não nega as mortes que sabidamente ocorreram durante certos períodos do governo militar; o Exército não deve falar em nome do Ministério da Defesa e das forças coirmãs; o teor da nota não contribui para que cessem as discussões estéreis sobre conjunturas passadas”, diz o ministro.

Na primeira versão da correção, o Centro de Comunicação Social do Exército apenas informa que não teve “a intenção de expressar-se em nome do Ministério da Defesa e das Forças coirmãs”. Sobre os fatos em si, limita-se a dizer que “o passado é história”. A segunda versão também pouco avançou. Lula e Viegas, então, ditaram as linhas gerais do texto que queriam publicado.

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