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Com Bento XVI e Francisco, Arns voltou a ter esperança

Do Jaçanã, zona norte paulistana, d. Paulo Evaristo Arns mudou-se para uma casa das irmãs franciscanas em Taboão da Serra, na Grande São Paulo. A rotina continuou a mesma, mas em ritmo mais lento, por causa da saúde debilitada. Vivia altos e baixos. Selecionava as visitas e emocionava-se ao recordar velhos tempos.

Quando teve um enfarte em março de 2005, não passou de um susto, mas foi internado no Instituto do Coração (Incor). Em novembro, fez uma cirurgia para redução da próstata. Nada grave, mas a saúde não estava bem. Sua fragilidade vinha de maio de 1971, quando sofreu um acidente de carro, indo de Santa Catarina para o Paraná. Ficou com problemas circulatórios que se agravaram nos anos seguintes.

Em 1992, sofreu um acidente mais grave: um carro em alta velocidade bateu no jipe militar que o transportava com d. Geraldo Majella Agnelo, em Santo Domingo, na República Dominicana, onde participavam de reunião dos bispos da América Latina. D. Paulo passou 18 horas inconsciente. Não se lembrava de detalhes do acidente, mas ao reconstituir o que lhe ocorreu concluiu de que devia ter sido um atentado. Não imaginava quem pretendia matá-lo, mas insistiu na suspeita. Em 1997, fez uma cirurgia para extirpar um câncer no músculo do olho esquerdo.

Na casa das irmãs franciscanas, celebrava missa todas as manhãs, lia os jornais, rezava e recebia amigos. Não via televisão. Quando a irmã Zilda Arns morreu no terremoto do Haiti, em 2010, ditou uma declaração à imprensa. “É uma morte que surpreende, mas é uma morte bonita porque ela morre no cumprimento de uma causa em que sempre acreditou.”

Depois de se aposentar, participava de atos públicos só quando convidado. Quando falou, sua palavra repercutiu. Por exemplo, quando deu um extenso depoimento no caderno Aliás, que o Estado publicou em 2005, quando João Paulo II estava muito doente. “Sim, seria hora de o papa renunciar para que a Igreja possa acompanhar o movimento da História”, disse.

Na entrevista ao Aliás, falou sem censura. Até porque não seria mais eleitor, no conclave que elegeria o sucessor de João Paulo II. A eleição do alemão Joseph Ratzinger agradou a d. Paulo. Cinco meses depois da posse de Bento XVI, ele aderiu ao coro dos cardeais eleitores que justificaram a escolha pelas qualidades pessoais do novo papa. “Ratzinger é um homem muito inteligente e de uma sensibilidade muito fina para as dificuldades das pessoas.”

O cardeal consolidou essa convicção nos anos seguintes. Em 2007, na visita de Bento XVI a São Paulo, encontrou-se com Ratzinger. Conversaram em alemão alguns minutos, apenas o suficiente para d. Paulo chegar à convicção de que o sucessor de João Paulo II saíra melhor do que a encomenda. Nas entrelinhas, havia as sequelas das dificuldades que enfrentou no pontificado do polonês Karol Wojtyla.

Quando Bento XVI renunciou, em 2013, d. Paulo ficou cheio de esperança com a eleição do papa Francisco. “D. Paulo falava com empolgação sobre Francisco, o argentino Bergoglio que ele conhecia há muito”, revelou d. Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau (SC) e ex-bispo auxiliar de São Paulo. D. Paulo voltou à Catedral da Sé duas vezes nos últimos meses: em setembro para comemorar seus 95 anos e em 27 de novembro, na celebração dos 71 anos de ordenação sacerdotal. No dia seguinte, foi internado no hospital Santa Catarina.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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