Construída para ser um dos mais belos cartões-postais do Rio, a Ciclovia Tim Maia, que liga o Leblon à Barra da Tijuca pela orla, está completamente abandonada. Fechada desde 2016 após um desabamento que deixou dois mortos, a ciclovia vem sendo saqueada diariamente. Em contraste com a vista naturalmente irretocável da Avenida Niemeyer, o que se vê hoje é uma estrutura depredada e sem uso, um símbolo fortuito de todas as mazelas enfrentadas pelo Estado.

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Os saques começaram em outubro do ano passado e tornaram-se frequentes. Ao todo, 45 metros do guarda-corpo de alumínio já foram furtados, com prejuízo estimado em R$ 60 mil. A prefeitura está a par do problema e informou, por meio de nota, que a tomada de preço para reposição da estrutura está em andamento, mas que já teve de ser recalculada várias vezes pela velocidade da depredação. Apesar das interdições e dos furtos, a ciclovia ainda é usada clandestinamente.

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Mas há quem tema passar por lá. “A gente curtia muito, dava uma liberdade enorme cruzar o bairro de bicicleta e estar na Barra ou no Leblon sem carro”, contou a bióloga Elianne Omena, de 50 anos, moradora de São Conrado, cujo marido estava pedalando no dia do desabamento e chegou a ajudar no socorro das vítimas. “Mas depois do acidente paramos de vez de usar, não dava mais.”

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O funcionário público Márcio Dutra, de 54 anos, que também é morador de São Conrado, conta que proibiu os três filhos de usarem a via. “Não tem como, só se eu fosse maluco”, disse. “Quem garante que outro trecho não vai desabar se tivermos uma chuva mais forte ou mesmo uma ressaca? Não dá para confiar mais.”

Em 16 de abril de 2016, três meses após ser inaugurada, uma ressaca levou ao desabamento de parte da pista da ciclovia, provocando a morte do gari Ronaldo Severino da Silva, de 60 anos, e do engenheiro Eduardo Marinho Albuquerque, de 54 anos. Sem condições de segurança, o trecho (Leblon-São Conrado) foi interditado pela Justiça e está fechado até hoje. O segundo trecho da pista (São Conrado-Barra), por sua vez, está fechado desde 15 de fevereiro deste ano, quando parte da pista cedeu em um temporal. A obra custou R$ 44, 7 milhões aos cofres públicos.

As investigações revelaram que uma sucessão de falhas resultou no desabamento e 14 pessoas foram indiciadas. Uma das falhas mais grosseiras foi não levar em conta o impacto das ondas no tabuleiro da pista (o que acabou provocando o acidente), mas apenas nos pilares.

Para o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal, que investiga a queda da ciclovia, Renato Cinco (PSOL), a estrutura não pode ser reaberta enquanto toda a estrutura não for reavaliada. Segundo Cinco, também é importante ter um sistema de monitoramento das ondas e um plano de contingência para os dias de ressaca.

“Não houve análise de risco prévia em um local de presença notória de ondas desde 1906”, criticou Cinco. “Até os dutos da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro) que passam por ali são subterrâneos naquele trecho, justamente por causa das ondas. Foi uma negligência muito grande.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.