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Cobertura vacinal de sarampo é uma ‘tragédia’, diz coordenadora

A coordenadora substituta do Programa Nacional de Imunização, Ana Goretti Maranhão, classificou como “tragédia” a cobertura de vacina contra sarampo no Brasil. O ideal é que mais de 80% da população tenha recebido a primeira dose do imunizante. Ela reconhece, no entanto, que são poucos os locais que atendem a essa recomendação. Os indicadores caem ainda mais quando se é observada a aplicação da segunda dose.

A doença volta a preocupar o Ministério da Saúde, em virtude dos casos registrados em Roraima. Até esta terça-feira, 6, foram confirmados seis ocorrências no Estado, depois de anos sem nenhum registro. Todos de crianças imigrantes da Venezuela, país que já enfrenta um surto da doença. Há ainda um óbito em investigação.

Em razão do aumento de casos, será realizado no Estado, a partir deste sábado, 10, uma campanha de vacinação. A expectativa é imunizar, até 10 de abril, 400 mil pessoas – cerca de 300 mil brasileiros ainda desprotegidos contra a doença e 100 mil venezuelanos que estão no País.

Além do bloqueio vacinal no Estado, o Ministério da Saúde destacou um grupo de profissionais para auxiliar ações de prevenção da doença na região. O Brasil recebeu em 2016 o certificado de eliminação do sarampo, concedido pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Tanto o Ministério da Saúde quanto o representante da Opas no País, Joaquim Molina, descartam o risco de o País perder o certificado em um curto espaço de tempo e, embora os números de pessoas imunizadas estejam abaixo do que seria considerado ideal, Ana Goretti afasta o risco de a doença se espalhar neste momento pelo País.

A coordenadora substituta, no entanto, alertou para a necessidade de se melhorar as coberturas. Não apenas de sarampo, mas de todas as doenças que podem ser prevenidas com imunizantes. “É uma questão que estamos vivenciando não apenas para sarampo, mas para outras vacinas.”

Um exemplo claro é o da própria febre amarela, doença que causa no País um surto com números sem precedentes. Ana Goretti não considera o movimento antivacina como o principal responsável pelos baixos índices de cobertura entre brasileiros. Para ela, o movimento, já organizado em outros países, é ainda incipiente no País. “Eles fazem um barulho danado, mas não é só isso.”

Há várias hipóteses que poderiam explicar a baixa cobertura vacinal, afirma Ana Goretti. A começar pela própria redução do número de pessoas com as doenças alvo de imunização. “É como dizem, o sucesso do programa atrapalhou o próprio programa. As famílias se esquecem de vacinar, os profissionais de saúde já não consideram tão relevante”, observa.

Mas há outros pontos. Como o acesso a postos de saúde, abertos geralmente apenas durante o horário em que pessoas estão trabalhando. “A mulher é grande fonte de trabalho, o empregador muitas vezes não libera o trabalhador para vacinar”, completa. Soma-se a isso a eventual falta de vacinas nos postos. “Há um desabastecimento mundial de algumas vacinas. A pentavalente, por exemplo, faltou por dois meses no País, por razões que fogem a nossa governabilidade.”

Recentemente também foi registrada falta da vacina BCG, por problemas de fabricação. “A gente tem de trabalhar para não ter também o descrédito da população, que leva a criança para vacinar e não tem vacina.” Goretti salienta, no entanto, que o problema não ocorre apenas no Brasil. De acordo com ela, as dificuldades também são encontradas em outros países. “A gente ainda é um exemplo.”

No caso da febre amarela, a resistência também é patente. No ano passado, a doença começou em Minas Gerais, Estado que apresentava índices baixíssimos de cobertura vacinal, embora fosse, havia mais de 10 anos, área considerada de risco da doença. Neste ano, diante do avanço do vírus para áreas onde a circulação antes não ocorria, foi organizada a campanha de vacinação contra febre amarela em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Nos dois primeiros Estados, a vacinação já for prorrogada e, mesmo assim, ainda não alcançou os níveis considerados ideais. Justamente por isso, a recomendação é manter a campanha até que 95% da população esteja imunizada. Balanço divulgado pelo Ministério da Saúde indica que 76% do público alvo foi vacinado.

Diante da resistência da vacinação, duas medidas estão em análise. A primeira, de curto prazo, está direcionada para a própria campanha contra febre amarela. Em uma reunião de avaliação, foi identificado que os próprios profissionais de saúde não incentivavam seus clientes a usar a dose fracionada do imunizante, com um quinto da dose integral. “É desconhecimento”, define Ana Goretti.

Em função dessa constatação, uma carta será encaminhada para médicos de Sociedades de Infectologia, Imunização, Pediatria, Medicina Tropical e Reumatologia para esclarecer sobre a eficiência da vacina fracionada. Em uma segunda etapa, o Ministério da Saúde quer lançar um programa para valorização da imunização. E, nesse ponto, serão discutidas desde estratégias para criação de postos volantes como incentivos para que cidades abram postos para vacinação em horários que não coincidam com o horário de trabalho.

Perguntas & respostas

1. Quem deve se vacinar contra o sarampo?

Todos devem tomar duas doses na vida, aos 12 e aos 15 meses. Mas quem não foi imunizado pode se vacinar na fase adulta, com intervalo de um mês entre as doses.

2. Quais são os sintomas da doença?

Febre alta, manchas vermelhas no corpo e conjuntivite.

3. Quais são as possíveis complicações?

Surdez, problemas pulmonares e cardíacos, encefalite e até a morte.

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