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Presidente da CNBB, dom Geraldo Majella: ?Eu não chamo de chiqueiro o nosso Congresso?. |
A campanha alinhavada pelo ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT-SP), para concessão de uma anistia política a seu favor, foi duramente criticada ontem pelo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Geraldo Majella Agnello. ?Não houve tempo para que o responsável pelo ilícito seja punido ou dê respostas à comunidade, e já falam em anistia?, disse. ?Não podemos concordar?, arrematou.
Com direitos políticos cassados em 2005 durante o escândalo do mensalão, José Dirceu deixou claro que não vai poupar esforços para reaver seus direitos cassados. Formou uma equipe a fim de idealizar o movimento para sua reabilitação política e sondar o momento exato de colocar a campanha na rua, a pleno vapor.
Para conseguir ter de volta os direitos políticos após a cassação, o ex-ministro da Casa Civil teria que protocolar projeto de lei de iniciativa popular na mesa diretora da Câmara com o endosso de 1 milhão de assinaturas. O ex-ministro e ex-deputado afirma que deseja provar sua inocência no processo de cassação por alegar que não teve amplo direito de defesa.
Assanhado com a iniciativa de Dirceu, o PTB também estuda a possibilidade de iniciar um movimento pela reabilitação de Roberto Jefferson, também cassado em 2005 durante as investigações do mensalão. Mas, ao contrário de Dirceu, Jefferson não assumiu publicamente o interesse por um processo de reabilitação. Caso seja bem-sucedida a iniciativa de Jefferson ou de Dirceu, abre-se uma brecha para que os demais envolvidos no escândalo sejam também anistiados.
Retrocesso
Dom Majella Agnello avaliou, ainda, haver risco de retrocesso na discussão sobre a reforma política. Para ele, a protelação da reforma seria prejudicial para a sociedade brasileira. ?É fácil se dar atenção para um tema e depois colocá-lo no esquecimento?, criticou. Citada durante a campanha presidencial como uma ação indispensável, a reforma política hoje já não integra a lista de prioridades. O primeiro a externar o ?rebaixamento? do tema foi o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro. Recentemente, ele afirmou que a reforma política não é um tema urgente.
O presidente da CNBB fez críticas ao Congresso Nacional, mas evitou comparar a Câmara dos Deputados a um ?chiqueiro? – como a reportagem publicada pela revista britânica The Economist na quinta-feira. ?Eu não chamo de chiqueiro o nosso Congresso. As dificuldades que atravessam nosso Congresso não se encontram unicamente no Brasil. Em toda parte do mundo há crise de autoridade e, portanto, é momento de muito egoísmo em que partidos, no mundo inteiro, estão mais preocupados com o seu grupo do que propriamente com o bem comum?, criticou.
Segundo dom Majella, o sistema político nacional vive uma ?crise ética e moral?, sem a defesa dos interesses da população. ?Aquele que é constituído representante do povo não está ali para defender no Congresso ou no poder os interesses particulares ou de grupos. Ele está para defender o bem comum?, enfatizou.
O presidente da CNBB considerou legítimas as recentes críticas do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Marco Aurélio Mello, sobre as propostas de reajuste salariais dos deputados. Na opinião de dom Majella, todos os cidadãos que ?desejam o bem do Brasil? têm direito de criticar as instituições.