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Clonagem e extração de DNA viram parte da aula em colégios paulistanos

Uma escola onde alunos aprendem Português e Matemática, mas também fazem clonagem de plantas e até extração de DNA. Pode parecer complexo, mas essas atividades já são rotina em colégios particulares de São Paulo. Nessas escolas, os adolescentes pesquisam e aplicam técnicas ligadas a uma área que passou da ficção para a realidade: a biotecnologia.

Segundo professores, além do contato com um assunto promissor, os estudantes ganham experiência em investigação científica e veem na prática conceitos abstratos de Física, Química e Matemática. Nos laboratórios, os alunos põem a mão na massa e usam equipamentos como microscópios e centrífugas. Também voltam à sala para debater temas ligados à bioética.

No Colégio Dante Alighieri, na região central, as atividades de biotecnologia se transformaram em disciplina eletiva este ano no ensino médio. “Os alunos se interessaram muito. Temos seis projetos grandes em andamento”, diz a professora Nilce de Angelo. Em um deles, alunos levam a parques da cidade, como o Ibirapuera, na zona sul, plantas clonadas na escola.

Em outro, mandaram sementes de um tomateiro para a estratosfera em balões. “Lá, elas sofrem variação de radiação, pressão e temperatura. Depois, em laboratório, são cultivadas in vitro para que a gente possa entender como essas variáveis influenciam no desenvolvimento”, explica a professora.

Leonardo Garcia, de 16 anos, trabalha com clones de orquídeas. No laboratório do Dante, ele e um colega analisam o crescimento dos vegetais, submetidos a frequências sonoras. “Mas não é algo genérico, como o efeito de música nas plantas”, avisa. A ideia do experimento é saber se a “música” é capaz de dar um empurrãozinho no desenvolvimento – o que já é estudado por cientistas.

Ele precisou usar o que aprendeu em Física para o experimento e se debruçar sobre trabalhos de mestrado e doutorado ligados ao tema. “Uma das maiores criticas à escola é como usar o que aprendemos na vida”, diz ele, que já apresentou o teste a professores do colégio e de fora. O Dante também tem atividades relacionadas a biotecnologia no ensino fundamental.

Novidades

De olho nas vantagens desse tipo de formação, outras escolas investem na área. Pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Luciana Vasques criou, em 2017, uma empresa, a Molecolare, para dar oficinas de biotecnologia a alunos de ensino médio. As atividades já começaram no Colégio Rainha da Paz, na zona oeste, para alunos do contraturno, e no próximo semestre deverão ter início no Colégio Humboldt, na zona sul. As aulas abordam assuntos como organismos transgênicos e terapia gênica – e, sempre que possível, os temas são entrelaçados com atividades práticas.

“Fazemos extração de DNA (coletado de células como as da bochecha dos alunos) e eletroforese, que é a visualização do material genético. Fazemos também a técnica de PCR, usada para testes de diagnósticos”, diz Luciana. Segundo ela, discussões sobre transgênicos estão entre as que mais interessam a turma.

“No fim, eles vão saber de maneira mais clara como é possível transferir um gene de um organismo para outro e discutimos ainda questões éticas envolvidas.” Ela explica que temas ainda mais recentes como a técnica do Crispr – tesoura molecular que permite edições genéticas, uma revolução na área – entram nas discussões.

Professores também participam de workshops na Molecolare. Aos 51 anos, Ana Paula Machado, docente de Biologia no Colégio Lourenço Castanho e na See-Saw, conta que não viu, na faculdade, temas de biotecnologia hoje na boca dos alunos. “É algo atual e fundamental para os alunos, mas os livros didáticos não acompanham”, diz ela, que já fez três cursos.

Limitações

Para Lucianne Aguiar, professora do Colégio Bandeirantes – outro que tem atividades de biotecnologia -, os experimentos ainda esbarram em limitações. Kits de testes em laboratório não são baratos e o País tem pouca tradição em tratar o tema em classe. Mas há como driblar. “Há práticas relativamente baratas. Para trabalhar história da biotecnologia, falamos de fermentação e usamos alimentos fáceis de achar.”

Debates éticos

Os debates sobre bioética estão entre as atividades preferidas dos alunos de Biotecnologia do Colégio Bandeirantes, na zona sul de São Paulo. Lá, o tema também se transformou em disciplina eletiva no ensino médio este ano. E o resultado é que mais de 200 alunos se inscreveram.

“Está crescendo o número de interessados, curiosos. Querem saber o que fazer na faculdade para trabalhar com isso”, diz Lucianne Aguiar, professora de Biotecnologia. As aulas são mescladas entre a parte teórica e a prática. Fora dos laboratórios, o incentivo é para que os alunos debatam os temas. “Tentamos colocar o aluno como protagonista, que vai atrás do conteúdo. E sempre trabalhamos em grupos.”

O método funciona como um júri simulado. “Entregaram um caso (fictício) sobre bioética e tínhamos 15 minutos para preparar. Era uma família que, pela religião, não vacinaria os filhos e a escola pública não aceitava essas crianças porque não tinham tomado a vacina. Um grupo defendia a escola; outro, a família; e outro era o dos jurados”, conta Luiza Nazima, de 16 anos.

Isso ajuda, segundo ela, na capacidade de argumentar. “Acho que isso acontece no mercado de trabalho. Não necessariamente você se depara com algo em que concorda 100%, mas tem de achar argumento para sustentar aquela ideia”, afirma. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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