O governador Cláudio Lembo (PFL) disse ontem que não há necessidade de enviar tropas militares federais para São Paulo neste momento. A afirmação contraria o que falou segunda-feira o secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu. O secretário disse que quer o Exército no estado para ajudar no combate à terceira onda de violência atribuída ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
Lembo afirmou que o Exército tem funções mais nobres do que ?patrulhar presídios? – tarefa para a qual Saulo gostaria de ter os militares. O secretário havia pedido soldados para que atuassem na segurança de presídios destruídos em rebeliões e no reforço do efetivo nas Operações Saturação por Tropas Especiais (Ostes).
O governador, sem citar diretamente o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse que ?personagens em Brasília aproveitam o momento de crise para fazer bravatas?.
Quanto aos R$ 100 milhões liberados em julho do Fundo Nacional Penitenciário para a Secretaria Estadual da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, Lembo declarou que o dinheiro está disponível no orçamento, mas não financeiramente. O governador chamou a ajuda de simbólica e insuficiente. Para ele, o montante necessário seria R$ 700 milhões. Lembo afirmou ainda não acreditar que o dinheiro chegará ainda neste ano, pois estaria preso na burocracia do governo federal.
O governador ressaltou a necessidade de uma avaliação dos custos que a ação do Exército traria para o governo do Estado, tendo em vista os altos gastos que já vêm sendo despendidos com a segurança pública.
Já o vice-presidente da República, José Alencar, reiterou que o governo federal nunca se negou a participar do esforço para ajudar São Paulo a vencer o crime organizado. ?Mas não podemos chegar ao ponto de uma intervenção?, ressaltou, ao comentar o fato de até agora o governador Cláudio Lembo (PFL) não ter aceito a presença do Exército. ?O governo federal respeita o sistema federativo.?
Para ele, o Exército poderia ser colocado nas ruas como ?poder de dissuasão?. ?O Exército não tem inteligência policial, pode fazer o trabalho de dissuasão como já fez no Rio de Janeiro?, afirmou. Ele lembrou que, quando era ministro da Defesa, o governo do Espírito Santo pediu ajuda. ?Nós mandamos o Exército e, durante o período que esteve lá, desencorajou o crime?, assegurou.
Famílias de presos rivais ameaçadas
Sorocaba, SP (AE) – As famílias de presos pertencentes a facções rivais do Primeiro Comando da Capital (PCC) também podem ser alvos de ataques, segundo mensagens eletrônicas recebidas pela Polícia Civil de Sorocaba. Os avisos, que chegaram à polícia antes da recente onda de ações, incluíam entre os supostos alvos, além dos funcionários das unidades prisionais, as famílias de presos de outras facções.
Uma das mensagens informava sobre a possibilidade de ataques a ônibus que transportam as visitas desses presos. As duas penitenciárias de Sorocaba são controladas por facções rivais do PCC, como o Terceiro Comando da Capital (TCC) e Comando Revolucionário Brasileiro do Crime (CRBC). A casa de um agente foi atacada ontem à noite, próximo da Penitenciária Danilo Pinheiro, no bairro Mineirão, controlada pelo TCC. O coquetel molotov lançado contra a residência não pegou fogo.
As mensagens faziam referência também aos presídios de Guareí, Bauru e Guarulhos. Os ataques seriam feitos pelos presos indultados em razão do Dia dos Pais. Eles sairiam das prisões com as missões determinadas. Os detalhes foram passados à polícia por informantes, pois os detentos deixaram de usar os celulares para a transmissão de ordens. O texto assegura que a informação é confiável, pois a mesma fonte já fornecera, em outra ocasião, informações verídicas.
Dia dos Pais
A Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (SAP) de São Paulo confirmou ontem que entre 10 mil e 11 mil detentos devem deixar os presídios paulistas para passar em casa o Dia dos Pais. Esse número representa menos de 10% do total de presos do sistema carcerário do estado. A saída acontece na quinta-feira a partir das 7h30, com o retorno marcado para segunda ou terça-feira da semana que vem às 18h, dependendo de cada caso. Quem não voltar dentro do prazo passará a ser considerado fugitivo.
