Fortaleza
(Das agências) – A vontade de Ciro Gomes (PPS) era passar o horário eleitoral gratuíto evitando José Serra (PSDB) e tentando fustigar o primeiro lugar na corrida eleitoral, Luiz Inácio Lula da Silva. Ele acreditava que não tinha nada a ganhar polemizando com Serra, de quem se afastou mais de dez pontos. Mas bastaram os primeiros programas de Serra para Ciro reavaliar sua decisão. E ontem mesmo ele começou a retaliar o tucano.Ontem, em Fortaleza, ele fez ameaças de retaliação caso seja eleito presidente da República, ao explicar os motivos pelos quais aqueles que chamou de “poderosos” temeriam sua vitória. “Vou dizer claramente quem é que é ladrão, quem roubou e quem vai pagar por isso. Cada escândalo será apurados seja de quem for”, disse Ciro em um comício após uma caminhada no centro da capital cearense.
Dizendo novamente estar “sentido o cheirinho gostoso da vitória”, em determinado momento Ciro foi mais explícito sobre o alvo de seus ataques. “Isso é um aviso ao ministro da dengue”, disse, referindo-se ao candidato governista José Serra (PSDB-PMDB), ex-ministro da Saúde. “E a quem manda grampear telefones.” Enquanto Serra e Ciro polarizam as atenções na publicidade eleitoral gratuita, o candidato Anthony Garotinho (PSB) pode estar correndo por fora. Mesmo com espaço de tempo reduzido na televisão e pouca infra-estrutura de produção para o programa, dois analistas políticos ouvidos ontem não descartam a possibilidade de crescimento de Garotinho, a partir da publicidade eleitoral gratuita, iniciado na segunda-feira.
“Ele é muito bom como comunicador”, disse o cientista político Rogério Schmitt, especializado na análise da propaganda política. O pesquisador Marco Antônio Carvalho Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, também acredita que ele não pode ser descartado, como se estivesse fora da corrida eleitoral. Guardadas todas as diferenças entre uma eleição e outra, Teixeira lembrou que o atual candidato a senador Orestes Quércia (PMDB-SP) ganhou a eleição para o governo estadual, em 1986, quando a disputa parecia estar entre os então candidatos Paulo Maluf (PPB) e Antônio Ermírio de Moraes (PTB), que trocaram todo o tipo de acusação no horário gratuito.
Até agora, afirmam os analistas, quem se favorece com a polarização entre Ciro e Serra, em busca de uma vaga para o segundo turno da eleição, é Lula. Livre de ataques e sem preocupação de contra-atacar, ele oferece uma publicidade eleitoral de TV centrada em propostas, mas Schmitt advertiu que há perigo nisso.