O presidenciável da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, mudou seu discurso a respeito de um provável acordo do governo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em vez de dizer que não o aceita, prefere agora afirmar que não pretende atrapalhar ninguém e que confia na equipe de negociadores. Acrescenta, porém, que é um candidato de oposição e que não adianta cobrarem dele certas metas porque rejeita a forma como o atual governo controla a economia.
?Digo que confio no espírito público dos negociadores brasileiros, pois seria a última pessoa a atrapalhar o entendimento que viesse a consertar o desastre produzido pelo atual governo?, afirma. No entanto, diz ainda: ?Não tenho poder para ajudar o País mais do que com minha prudência nem responsabilidade de projetar para o futuro políticas econômicas que considero equivocadas.?
Para Ciro, há uma tentativa de jogar nas costas da oposição as culpas de quem adotou o modelo econômico. ?Eles (o governo) usam essa estratégia. O candidato oficial (José Serra, que Ciro costuma chamar também de ?dragão da maldade?), desesperado, começa a semear boatos sobre a oposição, para tentar, usando o destino do País, mudar uma equação de impopularidade que eles mesmos produziram.? Segundo Ciro, quando, para buscar a reeleição, o governo manipulou o câmbio, José Serra era ministro do Planejamento e fazia parte do Conselho Monetário Nacional (CMN).
Ao contrário do PT, que aceita negociar mudanças no artigo 192 da Constituição para permitir que o capítulo referente ao sistema financeiro possa ser regulamentado por mais de uma lei (o Supremo Tribunal Federal determinou que a regulamentação tem de ser feita por uma lei apenas, embora o capítulo seja enorme e trate dos temais mais variados), Ciro rejeita a idéia de tratar do assunto.
?Nem pensar. Isso é com o Congresso Nacional. Em nenhuma hipótese eu posso cair na armadilha de assumir compromissos que não posso cumprir. Se eu assumisse isso, estaria malversando uma imensa expressão de vontade de mudança que tento interpretar para o País. Sou candidato da oposição, de oposição ao modelo econômico que nos oprime.?
O presidenciável aproveitou o fato de o PT estar querendo negociar as mudanças no sistema financeiro para atacar o candidato do partido à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva. ?É absolutamente inusitado, esdrúxulo mesmo, que candidatos que nem sabem se vão dormir comecem a dizer que vão armar a rede.?
Ciro Gomes comentou editorial do jornal norte-americano ?The Washington Post?, segundo o qual a responsabilidade futura por uma crise brasileira será dele e de Lula. ?Sou candidato a presidente da República do Brasil. Tenho que achar um ponto de justo equilíbrio entre dois valores, um mais que o outro. O primeiro é que este País tem 170 milhões de pessoas e se pretende um País soberano. Só quero ser presidente do Brasil para tratar com maior eloqüência a soberania, que significa que quem manda no Brasil somos nós, os brasileiros.?
Em segundo lugar, segundo Ciro, está a sua prudência. ?Sou um homem prudente, mas sempre que a prudência põe em xeque meu compromisso de guardião da soberania nacional, fico com a guarda da soberania.?
