São Paulo
– Os partidos que integram a Frente Trabalhista (PPS, PTB e PDT) e apóiam a candidatura de Ciro Gomes (PPS) fizeram ontem o mais duro ataque ao governo federal e colocaram em dúvida a imparcialidade das decisões tomadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na análise das disputas judiciais com o candidato do PSDB, José Serra.Em nota à população e ao TSE, os presidentes do PDT, Leonel Brizola, do PPS, Roberto Freire, e representante do PTB na coordenação-geral da campanha de Ciro, o deputado Walfrido Mares Guia (MG), acusam o governo federal de permitir que órgãos da administração direta sejam usados para produzir notícias falsas contra Ciro e o seu vice, o sindicalista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho.
A nota é uma reação da campanha de Ciro à decisão da ministra-chefe da Controladoria-Geral da União, Anadyr de Mendonça Rodrigues. Hoje, Anadyr enviou ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, e ao Tribunal de Contas União (TCU), relatório sobre o uso de R$ 38 milhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) pela Força Sindical -entidade dirigida por Paulinho. Nesse documento, Andayr aponta supostas irregularidades na prestação de contas da central sindical.
“…Ministérios do governo federal, como o da Saúde, o do Trabalho e até a Corregedoria-Geral da União passaram a ser usados como usinas de falsas notícias e verdadeiras calúnias contra nossos candidatos a presidente da República – Ciro Gomes – e a vice -Paulo Pereira da Silva”, afirmam Brizola, Freire e Mares Guia em um dos trechos da nota.
“Soltas ao vento, reproduzidas pela imprensa e transformadas em pauta da agenda nacional, essas mentiras terminam por macular o processo eleitoral e enodoar com suspeitas sem fundamentos a reputação e a biografia de políticos que sempre marcaram suas vidas públicas pelo compromisso com a verdade e com o bom debate de idéias”, completam.
Dúvida
Depois da acusação direta ao governo, os três signatários da nota colocam em dúvida as decisões do TSE nas ações movidas pela Frente Trabalhista e pelos advogados de Serra em suspeita. “No Tribunal Superior Eleitoral, Corte Suprema onde se pronunciam em última instância os julgamentos do processo político ora em curso, surpreende-nos a freqüência com que pedidos de direito de resposta do candidato do governo, José Serra, são deferidos e executados antes mesmo de as decisões transitarem em julgado”, escreveram.
“Mais grave, nega-se seguidamente efeito suspensivo aos agravos da Frente Trabalhista interpostos contra as decisões dos juízes auxiliares da propaganda eleitoral. Isso retira-lhes a eficácia e a razão de ser.” Brizola, Freire e Mares Guia encerram o documento afirmando que se sentiram no dever “de alertar o País para os desvios pelos quais a disputa pode enveredar, o que não é democrático”.
Apesar das duras críticas ao governo e ao TSE, o senador Roberto Freire disse hoje não acreditar que a denúncia “resolva” a situação.
Freire explicou que o intuito é alertar a população para o que está ocorrendo na eleição, porque o uso da máquina administrativa do governo já era esperada.
Serra enfrenta desconforto
Brasília
(AE) – Por trás dos protestos do Palácio do Planalto contra a falta de empenho do candidato tucano José Serra em defender o governo, há o que o tucanato define como “um pote até aqui de mágoa”. O alto comando da campanha presidencial do PSDB, em que se incluem tucanos, peemedebistas e até pefelistas, também coleciona reclamações contra setores da administração federal que, avaliam os serristas, mais atrapalham do que ajudam seu candidato. Isto, ao mesmo tempo em que interlocutores presidenciais queixam-se da hesitação permanente do candidato em relação ao governo.Não é à toa que a Frente Trabalhista que apóia Ciro Gomes, do PPS, fez um protesto público contra a intromissão do governo no processo sucessório. Nestes tempos de campanha presidencial, o Executivo federal acabou virando alvo de todos os candidatos de oposição. E para a angústia da assessoria mais próxima do presidente Fernando Henrique Cardoso, a cada questionamento dos adversários, Serra insiste que quer olhar para frente e discutir seu programa de governo, em vez de ficar remoendo culpas em relação ao passado e debatendo a atual administração.
Conselheiros e estrategistas da campanha de Serra argumentam que boa parte dos problemas e dificuldades que o tucano vem enfrentando na corrida sucessória foi produzida pelo próprio governo, incluindo aí o presidente Fernando Henrique. Em várias e diferentes ocasiões, tucanos como o líder na Câmara Jutahy Júnior (BA) e o prefeito de Vitória e coordenador da área técnica da campanha, Luiz Paulo Vellozo Lucas, e peemedebistas como o presidente do partido, Michel Temer (SP) e o líder na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), repetiram a mesma frase: “Serra está pagando a conta do governo”.
Foi assim quando o presidente Fernando Henrique mandou arquivar o processo de intervenção federal no Espírito Santo, motivo de uma passeata de protesto nas ruas de Vitória e de cobranças e má vontade do eleitorado capixaba para com o candidato do governo. Isto, para não falar de setores do governo identificados como “ciristas” pelo próprio Palácio do Planalto. São o caso, por exemplo, dos presidentes da Petrobras, Francisco Gros, e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Eliazar de Carvalho.
Se de um lado líderes do PSDB e até o coordenador político da campanha, deputado Pimenta da Veiga (PSDB-MG), admitem que falta mais clareza na relação entre Serra e o governo, de outro, estes mesmos tucanos não se conformam com os recentes aumentos de gasolina e gás de cozinha, que provocaram revolta no eleitorado.